sábado, 28 de junho de 2014

Daquilo que importa

Da família,
uma foto, um resgaste.
Uma falta.
Uma responsabilidade pela falta.
Um misto de culpa.
Uma culpa pela fuga.
Um deixar.
Um sair.
Um isolar-se.

E em tempos presentes facebookianos, o que resta é apenas
um curtir.

Que seja possível uma volta ao útero que me fez
pra curar as marcas, os vícios, os apegos.
Que me venha a humildade
do perdão.

Quando aqui percebo que todo o resto é abobrinha.
Pra crescer é preciso mexer ali.
Voltar ali.
Foi quando Alisse perguntou: por que ainda não sou (ca)paz de simplesmente existir?

Alisse viu ser tanto lá dentro, uma mistura sem fim de desejos, sentimentos, impulsos e poucos saberes. Esse tanto de sensação infinita mas sabendo não ter nem dimensão desse infinito. Que talvez tenha visto apenas ponta de iceberg. Que infinito era esse que tinha ainda medo? Que infinito era esse que ao pensá-lo via-se pequena e finita assim como ao pensar em Deus? Assim como ao tentar conceber de onde vinha toda aquela água imensa de mar que nela dançava.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Em meio a granito,
acompanho caminho de formiga.
Não reconheço vida por ponto,
mas ponto que se move.

Metonímia

Crianças, corpos novos submetidos às tentativas de encaixe vindas dos encaixados aqui.
Almas perto ainda dum lugar uno, lugar indivisível.
E como aprender nossas tantas separações?
Como preparar o corpo para apreender tanto aprender?
Saio de uma escola. Ensino fundamental da rede pública. Como estagiária.
Mas há ainda outra escola que de nós não sai.
E nessa, como uma indivisível.
Buscando compreender o aprender.
Buscando uma união com quem me matriculou
e se mantém coordenando esse ciclo escolar sem fim.
Enquanto isso, que sejam valorizadas as metonímias fundamentais.

dissol

Queria até dissolver-se,
deixar de ser assim corpo-pensamento incessante.
E ao dissolver-se,
essa que conversa comigo ainda persistirá perceptiva e falante dentro de mim dissolvida?
Ou então ao dissolver-me,
nem me saberia dissoluta,
já que até a que percebe a dissolução estaria dissoluta.

sábado, 10 de maio de 2014

Escritos do encontro

Enquanto me coloria com versos de Quintana 
Pela janela um grito de menina me chama
Vovó! Vovó! Vovó!
Um sorriso a brilhar todo seu corpo que pulava

A avó saiu do ônibus
Abraçaram-se como se acolhessem a alegria
Alegria de viver, de amar, de ser família

A avó com eles andando
Os olhos fixos da menina seguindo-a
Foi ver a felicidade desembarcando
Pele que vira cristal ao sol
Sou toda pontiagudos amarelo, verde, rosa
Pedi a benção do sol
Vi concretude da pele que me traz aqui
Lembrei de me ser
Do fundo de solitude em mim
Do agradecer por viver
Acompanhada dum lagrimar
Que salga meu ver
Como se sentisse prévia de essênciamar
Silencio enrolada feito feto

27/04
E o sabor dos olhos ao mar é o mesmo dos olhos ao transbordar de emoção.
Esse corpo, roupa do existir,
a qual moda está sucumbindo?
Qual costura está lançando?

sábado, 8 de março de 2014

Nosso amor floresceu em primavera.
Borboleta
assim
flor que voa.
Quem me ensinou a eu aprender comigo.
Seus cabelos,
raízes plantadas no céu.

Vidando

Vida
eu vou te colorir de azul
eu vou te ensinar o amor
eu vou te descobrir em luz

Natureza a mar

A minha natureza pede um pouco mais de mar
A minha natureza é o mais puro dançar
A minha natureza vem é em água e sol
É só assim a mar
É só assim a mar
É só assim a mar

Alegria de maré

Entrando no fluir do mar
eu encontrei sorrir
dançar o amar.

Amando a canção de estar
uma onda cobriu a luz do olhar.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Sequestros de emoções

Que vá um gole do nosso fundo pra um fundo de outrém
Que molhe em chamas algum chamamento de ninguém
Que escreva a soltura fluindo algo que nos limpe nesse vai e vém

Que esses versos sejam como dor jogada ao fogo
Compondo o fim desse nosso triste jogo
De partir e sofrer sem ninguém

Que seja perdoada a nossa incompreensão
Que a ignorância seja pacificada com gotas de luz

Que um compromisso com a verdade
Me empreste
Sem pressa
Às tantas vidas
À personagens
À poesia
À vida

Que eu seja poço profundo
Sabendo colher toda a água de mim
E assim matar a sede que nos doa

Que eu seja eu tu nós em laços

Que o querer dê lugar ao doar

sábado, 25 de janeiro de 2014

frágil carente, a falta olha ao entorno.
sem beleza, sem carícia, sem plenitude.
ainda falta ela nela.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Cheia em carangueijo

Extasiei.
Lua vi.
Não havia ainda esfera.
Apenas nuvens em luz.
Pintura com tintas de luz.
Ao esquerdo do recanto de lua escondida,
eram nuvens espelhadas por lago em céu,
era em forma de olho,
era o trazer de um novo olhar.
Esfera ainda não via.
Quando em meio a nuvens iluminadas num amarelo ouro,
uma ponta brilhava.
Brilho esse que não é figura de linguagem, metáfora ou exagero.
Via brilho. Como se o Sol estivesse adentrando em êxtase a escuridão.
Foi o presenciar de Sol em noite.
Foi o impressionar no mistério de uma arte sem artista humano.
Ali não seria possível distinguir arte e natureza.
Ali era a certeza de natureza e arte serem uma.
Ali outra certeza da necessidade de natureza.

Foi nessa distração em poesia,
que esfera começou a brotar.
Num início disforme.
Veio peito aberto e coração vibrando.
Veio lagrimar.
Só podem ser lágrimas de lua em câncer.
E no mesmo instante do fim desse poema,
esfera passa a se esconder noutra nuvem de cima.
Enquanto ficam raios nem de lua, mas de Sol ainda.

Que seja lua esse existir.
Um canalizar de Sol em meio ao escuro.