domingo, 16 de agosto de 2015

Desamor

Até que o homem cairia por terra
sem água alguma para banhar seu fim.
Morto, seco, sem alma nem água.
Até que em terra seca
uma nova espécie surgiria
toda inchada de água interna,
água daquele sofrimento
pelo egoísmo do descuido.
Espécie que choraria as dores do arrependimento
trazendo de volta toda a água que o desamor roubou.
De tanto choro, os filhos gerariam a mãe,
trazendo de volta nascentes de água a mar

Nascente a mar

A lágrima que sai de mim
é a mesma água de todo o mar.

Mãe água

Mãe água
você que me guia
Mãe água
Você que me ensina
Mãe água,
me ensina a amar,
a ser só mar,
fluir, nascer.

que amor
aspira 
tanta pira
limpando
nossa ira


18/10/2013
me ligaram lá do passado 
calcando o verso nostálgico 
sorrindo afeto que foi
ouvindo sentimentos 
e pedindo um oi saudado 
como se lêssemos
aquela poesia do passado
que é ainda verso do hoje




24/10/2013
Um isso de domingo, um abrir de peito, um sair de voz, um lagrimar de nada, guardei os olhos dos outros e no fundo de mim se aguaram. Só resta um transbordar de estar.

03/11/2013
percebeu a velocidade do passo noutro tom
o tempo do pensamento quase azul
parecia até ser (ca)paz de (c)alma


07/11/2013
E a (fr)agilidade do ser humano?

11/11/2013
aprender a (an)dar

14/11/2013
até que se deixe ser vir

26/11/2013
Quando a poesia deixa de ser de um poeta e passa a ser do encontro.


26/11/2013
mentira mortal seria fugir de dor.
é onde há própria dor, 
que brotará o jogo da verdade
em amor.

06/12/2014
que futuros amantes possam se ter em amor assim chamados amantes trazendo no fundo de si toda a entrega de traição sendo assim só em dois sem se (dis)trair.
traição - do latim traditione, entrega.

06/12/2014
Só não deixe-a esquecer que o que leva ar(te) não se vê.


13/12/2014
Extasiei.
Lua vi.
Não havia ainda esfera.
Apenas nuvens em luz.
Pintura com tintas de luz.
Ao esquerdo do recanto de lua escondida,
eram nuvens espelhadas por lago em céu,
era em forma de olho,
era o trazer de um novo olhar.
Esfera ainda não via.
Quando em meio a nuvens iluminadas num amarelo ouro,
uma ponta brilhava.
Brilho esse que não é figura de linguagem, metáfora ou exagero.
Via brilho. Como se o Sol estivesse adentrando em êxtase a escuridão.
Foi o presenciar de Sol em noite.
Foi o impressionar no mistério de uma arte sem artista humano.
Ali não seria possível distinguir arte e natureza.
Ali era a certeza de natureza e arte serem uma.
Ali outra certeza da necessidade de natureza.
Foi nessa distração em poesia,
que esfera começou a brotar.
Num início disforme.
Veio peito aberto e coração vibrando.
Veio lagrimar.
Só podem ser lágrimas de lua em câncer.
E no mesmo instante do fim desse poema,
esfera passa a se esconder noutra nuvem de cima.
Enquanto ficam raios nem de lua, mas de Sol ainda.
Que seja lua esse existir.
Um canalizar de Sol em meio ao escuro.


16/01/2014
Intuir é lembrar o futuro.


18/01/2014
múltiplos seres
múltiplos meios
múltiplos tempos
até que, 
de caule grosso dessa árvore, 
lampejo:
uma.
vida uma.
quando só existe
o existir.



24/01/2014
ah, vida
caminhe
que te quero
olhar.

31/01/2014

Alabama Monroe

das estrelas que já não existem
quando ainda são vistas
que haja amar
que impere cuidar
que floresça musicar

31/01/2014
ah se pudesse compreender 
o de agora incompreendido 
e não sabido que incompreendido


13/02/2014
até
amor
tecer

15/02/2014
Que eu seja eu tu nós em laços


28/02/2014
Borboleta
assim
flor que voa.


08/03/2014
Seus cabelos, 
raízes plantadas no céu.


08/03/2014
E o sabor dos olhos ao mar é o mesmo dos olhos ao transbordar de emoção.


29/03/2014
é como se semente se mentisse ao se tomar como início

04/04/2014
Esse corpo, roupa do existir,
a qual moda está sucumbindo?
Qual costura está lançando?


13/04/2014
Enquanto me coloria com versos de Quintana
Pela janela um grito de menina me chama
Vovó! Vovó! Vovó!
Um sorriso a brilhar todo seu corpo que pulava
A avó saiu do ônibus
Abraçaram-se como se acolhessem a alegria
Alegria de viver, de amar, de ser família
A avó com eles andando
Os olhos fixos da menina seguindo-a
Foi ver a felicidade desembarcando


10/05/2014
Crianças, corpos novos submetidos às tentativas de encaixe vindas dos encaixados aqui.
Almas perto ainda dum lugar uno, lugar indivisível.
E como aprender nossas tantas separações?
Como preparar o corpo para apreender tanto aprender?
Saio de uma escola. Ensino fundamental da rede pública. Como estagiária.
Mas há ainda outra escola que de nós não sai.
E nessa, como uma indivisível.
Buscando compreender o aprender.
Buscando uma união com quem me matriculou
e se mantém coordenando esse ciclo escolar sem fim.
Enquanto isso, que sejam valorizadas as metonímias fundamentais.



26/06/2014
Foi quando Alisse perguntou: por que ainda não sou (ca)paz de simplesmente existir?

28/06/2014
Estrada e música
Tudo o que ajuda na lembrança
Dessa eterna dança
Do vai e vem de ser vivo
Do fluir no ciclicar sem fim


06/07/2014
Com direção do lá de cima, ainda uma atriz um tanto quanto inexperiente que não compreendia os recados do diretor ao passar mil textos na cabeça esquecendo o que já estivesse decor(ação). Esquecia que só mais um elemento era no jogo ao ignorar roteirista, iluminador, trilha sonora. Num instante fez-se humilde, viu as luzes e lembrou do tal "casting", aquele antes de entrar na barriga da mãe. Pôde então perceber a direção ao notar a trilha incessante com a qual devia se alinhar. Trilha feita de toques em tambor vindos do próprio peito.


16/07/2014
Como em sacrifício, bonsai seco revelando submissão à água cuidado amor. De dentro vem e diz rega, rega que a paciência aguarda calma e terna em terra seca. De água diária se fez, de olhar atento e crente. 
E num ordinário olhar, um piscar de pescoço, pequena folha iluminada de sol.
Quando vê-se leve verde a (re)nascer. 
Quando vê-se o repetido ensinamento de calma. 
Que (c)alma vive em água.

07/08/2014
Dançar é musicar os órgãos.
(c)alma,
vin-te viver.
que seja o simples
receber de presente.

19/08/2014
Era uma vez uma mulher cega.
Era na mesma vez uma jovem muito apressada, ansiosa, cheia de metas e determinações.
Nessa mesma vez, a jovem determinada disse à cega, perplexa:
-Você já parou pra pensar que você nunca conseguiu ver?
A mulher sorriu serena e respondeu:
-Você já parou pra pensar que você nunca conseguiu (vi)ver?



07/11/2014
por que um filho que mata a mãe é um choque
e o ser humano destruindo a natureza é normal?


12/11/2014
(com)posição de (d)eus
cansada de tanto mentalizar longos poemas de versos extensos
optou pela síntese e colocou toda a contradição em ação num
uni-verso


18/11/2014
Sobre a Paulicéia, uma nuvem cansada de tanto cinza em vista. 
Resolveu chorar choro-chuva só pra ver os filhos da cinza abrirem seus guarda-chuvas coloridos e, em despretensiosa união, formarem tartaruga de casco florido.

11/12/2014
Você sem casa, sem chão,
eu posso ser pedaço de papelão
Que acalente coração
como abrigo pós desconstrução

18/07/2015

Parto

Naquele tempo, aqueles animais vinham a este mundo com um corte ao comando do relógio. Eram assim filhos da mãe Horas.
Ao longo da vida reclamavam não conseguir dar conta do pai Tempo, só se ouvia: "eu não tenho tempo".
Vivam num correr atrás do pai Tempo sem conseguir abraçá-lo.
Estavam só repetindo o momento em que foram tirados,
por mãos em desafeto, 
assim como objetos,
de dentro da mãe.
Levados para longe,
saindo das águas,
do redondo quente líquido,
indo para o quadrado frio sólido.
Moravam no país Solidão.
como nacSer?
"o mundo está ao contrário e ninguém reparou"


08/01/2015
até que se viva 
uma (mu)dança honesta 
de real amor por tudo o que é vivo.

10/01/2015
Sol, 
vou te tapar com a peneira
Que é pra ver se amenizo o ardor 
de ver tudo em plena luz
E ainda assim receba teu brilho.
E assim peneirado, ilumine essa água
que já é suco de tanta mistura que sou.


12/01/2015
Olhou pras folhas que brilhavam
na alegria de receber água do céu. 
Apreciou como dançavam a música-vento 
e ao abrir ouvido de dentro, 
percebeu que elas cantavam aquela canção:
"Com chuva tudo fica verde-vivo
verde-vivo verde-vivo
Com chuva tudo fica
Mais vivo"



13/01/2015

Ao interior

Era uma vez uma menina que viajava todos os dias de busão ao interior só pra ver reencontro banhado em alegria plena das crianças ao avistarem pai, avó, tia segundos antes do esperado abraço, na janela do busão. 
As crianças coloriam o ar ao pular em alegria com toda a pureza de serem inteiras afeto agora que não mais feto. De serem cura da saudade, acalento da falta, amor de encontro. 
A menina sentia que era ali, naquele instante de a cor dar aos olhos das crianças, que nessa mesma alegria também encontrava aquela que tanto sentia falta:
ela criança, ela alegria, ela encontro.
Ela criança na pureza de ser
inteira alegria de viver.
Ela encontrando a vida.



16/01/2015
em barriga da mulher, era feto
na barriga do mundo, afeto


04/02/2015
cai chuva
e dessa vez, também medo.
medo não da chuva
medo do amanhã.
tantos pingos ainda caem
e nas torneiras logo não mais cairão.
avareza agora é pela água.
medo agora é da falta de água.
se só assim se aprende a olhar ao essencial,
então o tal colapso é sagrado, é necessário.
só assim enfim se importar com o que vai além das carências afetivas, das vaidades, das invejas, dos orgulhos, das mentiras.
mas ao fim deste escrito, aquela chuva já parou.
continuarei nessa conversa contigo, chuva, para que você continue a cair até nos inundar de consciência, uma outra, uma nova.
uma cheia de zelo, enfim.


04/02/2015
Ali, na chuva, ela sonhou construir grande bacia. 
Bacia tão grande quanto tamanho de planeta. 
Bacia-planeta feita de terra e plantas de grandes raízes a captar essa água, fazendo brotar olho d'água.
Sonhou com um planeta chamado Terra.
Se deu conta de que ele já existiu.
E estava sequestrado.



04/02/2015
minha mãe
me contou um segredo
ela disse que mora
no brilho do sol
penetrando o mar

13/02/2015

Árvore Ia

Uma árvore ia do externo do IA.
Grande verde sopro sombra, 
grande beleza em meio ao cimento da Barra Funda, 
grande silêncio em meio à barulheira da Barra Funda.
Ela agora ia.
Indo, as folhas agora mortas cantavam:
"alguma coisa está fora da ordem... fora da nova ordem mundial.."
No instituto de artes beleza ia
Que reste poesia
a oxigenar as cinzas da academia.


18/02/2015
Virou propriedade A terra
Virou propriedade A água
Não virou propriedade O fogo
Não virou propriedade O ar.
Só se conseguiu apropriar as femininas.
As que se entregam.
Aí eu nos pergunto:
será que sabemos lidar com a ENTREGA FEMININA?
nós - e agora sim, HOMENS -, nós sociedade-homens, sabemos penetrar o feminino?
Sabemos tocar um útero?
Sabemos receber uma entrega?
Ou apenas tomar posse dessa entrega, em agressividade, ganância, abuso de poder, descuido, desamor e egoísmo?
Seria possível olhar nos olhos do feminino-mãe e enfim aprendermos a ser homens?


19/02/2015
a liberdade
é uma flor
que desabrocha 
onde não há 
mais o temor


06/05/2015
que venha nova maré
que venha en-canto do mar
bethania sophia oxum iemanjá
que venha feminina potência
que venha, enfim, fluir a-mar


16/03/2015
meu mais sincero verso
em resposta ao universo
só pode ser escrito como silêncio
de um olhar aquoso em gratidão

04/04/2015

primeira pessoa do plural

disseram a ela lá em algum chão de cristais que os laços entre os que se amam ultrapassam efemeridade da terra que a tudo engole. que os laços entre os que se amam permanecem voando como se desenhassem destinos a brincar de reencontros pelos espaçostempos. laços que se atritam, numa metafísica agora inventada, fazendo pulsar a força que faz tudo o que aqui há, haver. laços que num emaranhado circular geram incessantemente a força do devir. laços que voam esperando eu me reconhecer buraco onde caiba um grão de fita que alguns chamam de amor. outros, eternidade.


19/04/2015




Andava rápido, como se nada acontecesse. Até sentir que não podia mais andar Que precisava sentar ali, no meio da rua. O corpo sem forças Caí. Caí dentro de mim. Virando água dessa vez estancada. Caí dentro do vazio do meu peito. Caí dentro da dor de não me doar. Caí dentro de um amor que existe para sair de mim. Mas que se engole e volta em dor Como câncer que me corrói internamente por não desaguar. E se repete E mais uma vez a saga se repete E o que faço com esse rio que me habita? O que faço com esse mar de te amar? Vou tentando amar outros homens. Vou tentando seduzir. Vou tentando encantar. Vou tentando me mostrar forte. Vou tentando focar na arte. Vou tentando criar um bom discurso. Vou tentando. Vou tentando. Vou tentando. Vou mentindo. Quanta mentira sou se não em ti. Esse meu corpo berra o não aguentar mais mentir Mentir a verdade de que o meu amor é seu De que meu corpo é seu Meu interior todo é seu Meu íntimo que nem eu mesma conheço é seu Vou escorrendo Escorrendo Meu gozo é triste Minha excitação agora é choro pela vagina Choro triste que não cabe Que se ficar em mim, me come. Me consome. Até sua dor em mim deságua ao sexo. Resta-me dançar. E só. Tão somente dançar. Um dia me explicarão o que me faz existir Um dia me explicarão qual a razão de te amar tanto De me tocar tão profundamente De ser assim um portal De acordar meu bicho Então eu viro bicho feroz As patas pulam os dentes rangem A boca treme a cabeça te fura Num segundo bicho desaba Entrando em si e sumindo em sua mãe fragilidade Que chora a dor no peito Do buraco sem fundo de onde arrancaram O que de mais belo havia em mim. Estou fraca. Tentarei dormir pra esquecer Meu amor é teu Mas dou-te mais uma vez E como nós, seres de carne, não somos capazes de habitar esse mar? De viver o êxtase do amor? Meu sexo triste Escorre e segue no medo No medo de o prazer seguir sendo meu choro triste
Até eu me lembrar de mim E fazer subir Tudo o que escorre Pois se vivo em mim, em mim viverei a intensidade desse corpo. Em mim buscarei abrigo e acolhimento Até ser banhada por um menino Deus Que enfim abrirá as pétalas para o universo Que em minha dança se encontre nexo Todo o fogo desse sexo Que é me habitar. Dança, vou te sondar até sermos uma. Até aprender então a entrega Independente de um corpo que me penetre E jorrarei aos ventos o néctar desse existir intenso Como se soubesse amar incondicionalmente E me dar, me dar, me dar. Transmuto transmuto transmuto no fogo de Shiva Toda dor do amor negado Fazendo desse corpo um templo Que convida agora a alegria A me habitar, penetrando essa tão triste vagina Que num segundo vira poço de alegria E ao sol, só ao sol, se entrega. Venha, Shiva. Dê-me firmeza e consciência pra te aceitar em mim.

15/05/2015

amém

afirmando, disseram amém
sorte dela que entendeu amem
e viveu dizendo sim ao mundo


09/05/2015

estranha forma de vida

me deram uma vida
me deram um corpo
me deram um coração 
me deram profundo amor
me deram profunda dor
me deram canal da boca a pubis
me deram fluidos
me deram esse existir estranho
me deram essa noite
me deram tanto
que meu corpo é pequeno
e tudo o que posso dar a essa madrugada
é minha dança
transbordando pelos olhos e membros
toda extensão de mim



16/05/2015
quando enfim nesse novo fim só o sorriso brotar do mais puro desejo de vida, da mais fluida dança da mudança, do agradecer e abraçar, do abrir e ir.

25/05/2015

Espe(cri)ança

No meio da rua, ele abre os braços. E espera. O contorno desse homem no início da noite tem marcas tão luminosas que sua espera passa a ser também minha espera. Espero o que aqueles braços abertos esperam. 
De longe, uma risada. Um menino corre como se seu existir fosse inteiro feito pra aquele destino. A mochilinha fica com o outro homem que o acompanhava. E ele vai, vai, vai.
Aquela espera ganha riso, meus olhos ganham água, aqueles braços ganham abraço. E só o silêncio alcança o som desse encontro. Como se meu existir fosse inteiro pra ver o reencontro cotidiano de criança em colo de pai. 
Como essas notas do piano são toda uma vida à criança que é toda encanto no olhar. Aquele encanto tão perdido em meio aos nossos corações empedernidos. 
Há quem espere pela salvação, pelo paraíso, pela fuga ou pela droga. Eu espero pela criança.

28/05/2015

Sol tar

Aquelas mãos fechadas 
consumidas pelo desejo de devorar e possuir
Eram lentamente abertas 
pela força das orações que fazia 
sem ao menos compreender o real porquê
Aquelas mãos se abriam
soltando tudo aquilo que mais acreditava amar
Soltando junto todo o medo do desamor
Aquelas mãos ganhavam então extensão na matéria
Era água que corria sem cessar
Aquelas mãos tocavam então um abismo
Era o abismo da liberdade
Era o perigo da imensidão do (a)mar


30/05/2015

disabrochá

E quando tu mi olhá
Se pur acaso meus zoio aguá
Abra essa tua janela, minino
Tem alma minha querenu
Com tu brincá.

E quando alcançá minha fulô,
Pegue-a com cuidado,
Tanto ispinho pode machucá.

Mas se ainda assim mi sigurá
E minha janela tu incará
Sentinu ispinho dessa fulô
Cum dedo a sangrá

Puderá intão entrá e presenciá
pétala por pétala dessa fulô
A se abrí e enfim soltá
Toda a dança
Que vem em ti exalá.


17/06/2015

desabrochar

uma flor nasceu em teu útero
e o azul escorreu por entre as pernas
te alcanço numa dança
pra me alcançar

22/06/2015

Borboletas no estômago

Aquela mulher que anda por aí com sua cesta de flores cheias de espinhos, chamada Vida, um dia me olhou e plantou lagartas em meu estômago. Até que eu pudesse revirar meu corpo inteiro, num tempo de casulo, casando dedos de sol com olhos de água e soltar borboletas por todas as bocas. Borboletas dançando vida amada temida descoberta sentida chorada sorrida. Borboletas traçando entrega ao vento, colorindo novos ares.


01/07/2015

Rio volta

Girei até encontrar meu rosto puro
Me olhando com olhos que não me cegam
Uma face que em si tudo acolhe e cala
Face água de rio, água de mar
Envolta num círculo de pó de estrelas e pólen de prazer
Sentiu o gosto do fio luminoso e cru das coisas
As coisas sem poesia, sem fotografia,
sem amanheceria, sem amanhã como seria
As coisas no instante em que o peito quer correr para fora de si
Mas o coração o segura envolto em sangue
E o mantém inteiro desembrulhar de presente
Que quanto mais dá de si, mais inteiro se entende


12/07/2015

Oração de São Francisco

Como lágrimas acalentando rugas secas 
e fazendo rios em rostos 
que mascaram nossa eterna interna criança.

16/07/2015
era latido de cachorro era tentativa de violão
era o silêncio da noite era o sorriso do novo
era a sede de abundância era a gula da insegurança
era a incompreensão da matéria era o amor em guiança
viajou por horas e eras
cheirou os laços do passado
e se constituiu de fitas soltas
se entregando às novas danças
feito pau de fita em festa de São João
no vazio preenchido a pergunta ecoou
e se soltasse o que acredita necessitar?
restaria a dor, a falta, o desamor
que convocasse um se revirar
até compreender o fundo doce que acolhe
o acalento manso que agradece por tudo o que perdeu
e segue banhando-se de uma beleza ímpar
por olhar nos olhos do que viveu
com o desprendimento de lágrima que transborda
e quando essa lágrima gota do mar virar
me banhei no que viverei


18/07/2015

Por que danço? ou Ode ao Fogo

Me fiz o risco
Mudei de corpo
Dancei o tormento mental
Deixei na terra a mentira
Desnudei a vaidade da minha dança 
Escancarei a carência
como quem vomita o rosa bailarina
E meus olhos colhem o tempo de olhar no rosto do mundo
Mundo em seu espectro desenhado em espectador
Com a entrega da (mu)dança
Dos meus pés transbordam o sémen que me fez
E assim me entrego ao invés de te tragar
Talvez eu saia arranhada mas é o caldo desse mar
Vem, entra nesse círculo
onde minha voz é minha mãe,
onde musicamos os órgãos,
onde jorramos verdade
e transmutamos a vaidade
Vem, que no fundo do meu agressivo intimidador
Tem brisa e água doce
Onde dançamos o desconstruir crenças
Onde cantamos a honestidade
Nesse lugar que ora é espaço cênico,
ora bocas que deságuam em meu coração


20/07/2015
Ela chamou o menino Deus pra perguntar o que era a vida.
Ele levantou a cabeça sorrindo e transbordou simplicidade:
"Uma grande brinquedoteca, minha filha, 
se joga aí, corpo-criança!"


23/07/2015
de coroa pesada e corpo fluido, tempo rei nos rondou
se achegou como quem compreende tudo e nada fala
sua coroa pesou em minhas pétalas
seus membros dançaram bem-me-quer, mal-me-quer
e eu virei miolo
virei centro e deixei voar a cor
colhi cheiro de íntimo amor
fotossíntese até com desamor
desisti de florir o que for temor

21/07/2015
Ela queria pra si tanto amor 
Que segurava aquilo tudo com fervor
Mas o menino Deus era mais mimado que ela
E tirou tudo da mão dela
Ela dançou o sol e a soltura
Ao ritmo do peito que se fazia tambor da cura
Viu que era doce o que temia
E seus pés cantavam que era filha da alegria



24/07/2015

Mato

Aqui onde mora o silêncio
O vento me contou
Por entre o caminho de ida
Que faz nas folhas
O que o sol já sussurrou
Por entre a dança do brilho
Que faz nas águas
Me contou que anda matando
A concepção de futuro
Que é pra que eu possa ver
Algum instante verdade


26/07/2015

Inferno Astral

amar o elo
gostar do gosto
no instante leonino
a alegria do amarelo
pousou no sol quase agosto
tudo meio musical
nesse dito inferno astral


28/07/2015