Andava rápido, como se nada acontecesse.
Até sentir que não podia mais andar
Que precisava sentar ali, no meio da rua.
O corpo sem forças
Caí.
Caí dentro de mim.
Virando água dessa vez estancada.
Caí dentro do vazio do meu peito.
Caí dentro da dor de não me doar.
Caí dentro de um amor que existe para sair de mim.
Mas que se engole e volta em dor
Como câncer que me corrói internamente por não desaguar.
E se repete
E mais uma vez a saga se repete
E o que faço com esse rio que me habita?
O que faço com esse mar de te amar?
Vou tentando amar outros homens.
Vou tentando seduzir.
Vou tentando encantar.
Vou tentando me mostrar forte.
Vou tentando focar na arte.
Vou tentando criar um bom discurso.
Vou tentando. Vou tentando. Vou tentando.
Vou mentindo.
Quanta mentira sou se não em ti.
Esse meu corpo berra o não aguentar mais mentir
Mentir a verdade de que o meu amor é seu
De que meu corpo é seu
Meu interior todo é seu
Meu íntimo que nem eu mesma conheço é seu
Vou escorrendo
Escorrendo
Meu gozo é triste
Minha excitação agora é choro pela vagina
Choro triste que não cabe
Que se ficar em mim, me come. Me consome.
Até sua dor em mim deságua ao sexo.
Resta-me dançar.
E só. Tão somente dançar.
Um dia me explicarão o que me faz existir
Um dia me explicarão qual a razão de te amar tanto
De me tocar tão profundamente
De ser assim um portal
De acordar meu bicho
Então eu viro bicho feroz
As patas pulam os dentes rangem
A boca treme a cabeça te fura
Num segundo bicho desaba
Entrando em si e sumindo em sua mãe fragilidade
Que chora a dor no peito
Do buraco sem fundo de onde arrancaram
O que de mais belo havia em mim.
Estou fraca.
Tentarei dormir pra esquecer
Meu amor é teu
Mas dou-te mais uma vez
E como nós, seres de carne, não somos capazes de habitar esse mar?
De viver o êxtase do amor?
Meu sexo triste
Escorre e segue no medo
No medo de o prazer seguir sendo meu choro triste
Até eu me lembrar de mim
E fazer subir
Tudo o que escorre
Pois se vivo em mim, em mim viverei a intensidade desse corpo.
Em mim buscarei abrigo e acolhimento
Até ser banhada por um menino Deus
Que enfim abrirá as pétalas para o universo
Que em minha dança se encontre nexo
Todo o fogo desse sexo
Que é me habitar.
Dança, vou te sondar até sermos uma.
Até aprender então a entrega
Independente de um corpo que me penetre
E jorrarei aos ventos o néctar desse existir intenso
Como se soubesse amar incondicionalmente
E me dar, me dar, me dar.
Transmuto transmuto transmuto no fogo de Shiva
Toda dor do amor negado
Fazendo desse corpo um templo
Que convida agora a alegria
A me habitar, penetrando essa tão triste vagina
Que num segundo vira poço de alegria
E ao sol, só ao sol, se entrega.
Venha, Shiva. Dê-me firmeza e consciência pra te aceitar em mim.
15/05/2015
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