domingo, 16 de agosto de 2015

Arte-mãe

Arte, mãe de todos os órfãos. 
Todos os sentimentos órfãos,
os desejos órfãos,
os movimentos órfãos. 
Arte-mãe, que tudo aceita e acolhe.
Arte-mãe, que dá de mamar
até a uma entrega desenfreada,
a uma maldade descabida,
a um amor iluminado.
Arte-mãe, leite que me ergue
e colo pra onde volto já cansada.
Arte-mãe, que aceita o jorro
e tudo transmuta.
Arte-mãe, que recebe o falo do homem
e faz da sua ação uma vida tão pura.
Arte-mãe, que ama o requinte
e acolhe até o sem contorno.
Arte-mãe, és a dança que suporta
todo o fogo e toda a água
que queima e transborda
desse corpo que habito.
Arte-mãe, és a poesia na qual escorro
toda a desgraça
e toda a maravilha.
Arte-mãe, és a sonoridade que faz ondas
de verdade com minha mentira
e de humildade com minha vaidade.
Arte-mãe, és a voz onde encontro
a foz dessa minha alma,
trabalhando a língua
como quem suga a mama.
Arte-mãe, eu vim de tua barriga mundo.
E em tua flor eu entro.
Arte-mãe, não me deixa esquecer
o que Grotowski já reconheceu.
Arte-mãe, eu sou filha de alguém.



03/08/2015

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