Peço emprestadas as vísceras para fazer poesia.
É tão simples saber o que será de quem se relaciona, basta sentir.
Sentir.
Como é bom viver com a verdade, ou apenas buscando a verdade. Hoje, pela rara vez, preciso do texto corrido, abandonar os versos por poucos instantes. Minha vontade agora é cantar nesse ônibus, olhar nos olhos dos desconhecidos, sentir o outro, talvez sorrir, talvez somente olhar. Eu necessito que olhem nos meus olhos, vou andando por aí buscando olhos, meus olhos estão sempre querendo sugar e serem sugados por outros.
O sol batendo na janela por onde vejo o Tietê, a sombra da minha pele em um relacionamento sensorial tão delicado e forte, tão qualquer coisa, minha mão beijando o papel.
Ontem eu olhei nos olhos dos que muito me fizeram chorar.
Talvez eles não saibam o quanto de lágrimas meu cérebro jogou pra fora por eles enquanto ocupavam meu corpo todo.
Eu os abracei com a intenção de fazê-los meus, os dois ao mesmo tempo, pelo menos por cinco segundos eles foram meus, foram do meu abraço e do meu amor. (Como sou hipócrita usando palavras e afetos de posse) Apenas isso, apenas cinco segundos. Em nenhum momento anterior a esse eles estiveram comigo realmente, mesmo em tantos beijos, reflexões, chuvas, skypes, camas e escadas de incêndios ou halls de prédios. Tão diferente e tão igual o que eu sinto por vocês, o amor. Sim, o amor. Afeto tão bonito que estremece meu corpo em tantos choros.
No colo dele eu chorei por eles,
tocava-o com amor e só recebia a dor.
Minha vida parece ser até poética.
Ela é poética.
Mas eu sou sim banhada por algo maior, alguns diriam abençoada, outros sortuda, eu digo, não digo nada, apenas sinto. Não sei nem porque escrevo se o que sinto é tão raro (raro?), tão leve e tão forte. Ah, eu amo sentir, me faça sentir algo, por favor.
Acabei com a tinta da caneta de uma alma tão querida sentada ao meu lado.
Mas ali, quando doía meu afeto dúbio, duplo e ambíguo, quando precisava de choro e beijo, surgiu um ser que cai na rua comigo, me faz sentir que não estou sozinha. Sou sozinha, mas não estou.
"Das feridas das queridas despedidas de quem sentiu todo os momentos".
Você, alma barbuda das ruas, é como a flecha do arco do arco do arco-íris, você tem o amor celestial, você tem tanta beleza.
Há belezas imensas no seu ouvido que me escuta, na orelha que eu beijo, na língua que eu brinco, nos braços que me cercam, no tronco que eu me penduro, na poesia do seu íntimo, nas suas falas confortáveis, nos seus olhos azuis que me abraçam, você consegue me abraçar com os olhos, você consegue me abraçar só por existir.
Assim como o sabiá...
Talvez você, rua deitada e beijada, seja outro, o próximo a me fazer chorar. Você tem o meu afeto, meu beijo e meu conforto. Seu samba miudinho faz meus pelos pulsarem dança. Nosso beijo dançado faz círculos no chão e no ar.
Obrigada por existir.
Quero sempre pisar na ilusão e voar na entrega.
Ontem foi como ventanias e brisas que brincam com a existência.
Nos beijamos deitados na rua.
Eles se beijaram intensamente ao meu lado sem saberem. Achando que o fumódromo era como caixas pretas, quando são de vidro. Enquanto o beijo deles se fazia bom, eu cantava chorando com a lua, eu recebia o amor da lua. Um casal se preocupou, quase derrubei repartições, chorei intensamente onde ninguém me via e eu via todos. Vi o enlace de vocês no bar, dancei no chão, coloquei minha dor no movimento, dancei chorando onde me escondia de qualquer vista e julgamento. Te chamam de ladrão, bicha, maconheiro, puta, sapatona, louca, bêbada (quando apenas bebi o ar do meu corpo), inconsequente, impertinente, imatura, isabella.
Agora só preciso dos verdes mares, choques marrons e chuvas pretas, desse céu tão bonito. Vou respirar o azul claro da minha vida. No céu, no mp3, no Bonsai e no fígado.
Ouvir Caetano e olhar meu oxigênio poético passando por aí.
Fechar os olhos e sentir as poesias escolhidas pelo sabiá.
Deitar poltronas enquanto a vida vai a rodar.
Minha existência vai sendo feita por vocês.
Se a morte me vier amanhã, virá tranquila pois te disse que te amo.
Abandonei toda e qualquer regra do amor e prefiro banalizar o meu "eu te amo" e "boa vida" do que sair da vida de vocês sem dizer o quanto vocês importam pra mim.
Obrigada por me darem amor, por me deixarem inventar amores entre nós.
Agora apenas sorrio engolindo o amor e banhando minha memória em vocês.
À quatro almas e ao amor,
ou apenas ao amor,
meu dever e submissão absolutos ao amor.
Não me matem dentro de vocês, pelo menos nessa vida.