sábado, 29 de setembro de 2012

Metodologia da expectativa


O gosto de questionar, mesmo que as reprovações queiram te engolir
A ironia levanta sobrancelhas com a fuga de si mesmo
Minha dispersão me joga ao positivismo
A memória faz tampas nadarem em coletivos acadêmicos
Pinceladas de lua me querem em cima de você

Quais as minhas expectativas?

Quais as minhas forças?

As crenças ali escorrem pela arrogância
Sibilam silêncios colando os ouvidos na África

Nada é óbvio
Nada é claro assim

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Onde

Onde está minha falsidade
Meus olhos são fechados lentamente pelas forças das lágrimas
Minhas profundas saudações leoninas se escorrem pelo meu rosto simétrico
Ainda meus olhos jorram com a intensidade de um leão a salvação pura da invenção
Sou abordada por amores e inventada por dores
Repito as meras ponderações e acolho as repetidas repartições
Ainda jorro meu gosto ao que mais intensamente sugar minha pela enquanto canto a dor
Meu peito ainda quer expulsar a ansiedade
Ainda sou apenas o desejo
Ainda desenho iminências
Ainda não ando nem paro
Ainda sou o muro infeliz da repartição aristotélica
Minhas mentes não mais suportam sua antipatia de teatro
Não quero um teatro que só queira expor algo
Não me move um teatro que só queira o elogio
Eu quero a dor latente da doença escorrendo pela performance
Busco o sabor da verdade quando uma identidade revela arcanos e dores reais
Não admito seus bicos moles que me enganaram por tanto tempo
Me afogo em outra ilusão
Não sou mais que a cerveja entupindo a garganta
Ainda boio em mentiras
Ainda não sei existir.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Voltei ao amor

Desperdicei versos em telefonemas de monotonia
Calei minha poesia nas águas do rancor
Viciei meu cansaço nas noites não dormidas
Ceguei minha pele na bagunça da minha vida
Cantei incômodos sangrando a valorização dionisíaca
Escravizei meu espírito só pagando com ansiedades frustrantes
Não acolhi minha força nos ossos da condução
Onde estive correndo no amor, a desorganização nadava em mim
Adormeci num pau eterno de Electra
Colori minha sexualidade com Édipo
Em degrade fiz o meu desejo pluricelular
Expulsei o amor de mim e distribui beijos
Mantive olhares fixos na vontade exótica de seus cabelos
Por onde eu ia secar minha faringe, um corredor de línguas me puxou
Seria sua se não fosse do mundo
Quero seus olhos enquanto a introdução extasie nosso amor
Em você minha mente pousa
Quero você em mim, nos quero ardendo em amores livres
Provaria só de você se nossos pelos trançarem tanta pulsação
Hoje apenas abro meu ser sorrindo lentamente ao ler seus poemas
Voando eu vou pescar aquilo que acariciar meu rosto com a suavidade de um olhar verdadeiro
Banho minha imaginação numa faca florida em vestido de menina
Construo uma paixão platônica pela doce flor de cabelos caídos
Flor com vestido azul dançando pontos de tempo ao amar Caetano
Sorrio àquela moça em minha imaginação de Gal
Faço do timbre de Zélia o meu platônico pela moça flor
Da memória uso a atração que um dia pousou em mim
"Eu me aposentei dessa vida e dirijo empresa de sonhos"
Invento traições
jogo com a heterossexualidade
beijo a perdição
Pauso a escrita e ouço o gosto do sorriso lacrimejante do mundo

sábado, 22 de setembro de 2012

É um misto de impotência com felicidade
Caio nesses olhos suados com cheiro de bichos engolindo babas
Me arrasto em seus pelos arrepiando a cor da respiração ofegante

Nó conceitual

Não adormeci pelas horas de nova primavera
Em quadros metodológicos minha mente cantava Zélia Duncan
O bem estar pulsando em chás de hortelã que me carregam pela noite

Sem saber ao certo a cor do sono, 
meus olhos fixam pesquisas 
Enquanto ontem exalava o bom do amor, 
hoje calo a saudade nos estudos


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Azul voar

Brinquei de inventar outra paixão nas ruas da saudade
Acordo olhando ao cinza
Me perco em sorrisos leves 
Pelos quadris da laranja está minha vontade de você
Ouço bloqueios na poesia enquanto raciocino meu sorrir
Ficarei degustando o sorrir ao inventar outro balão 
Me elevarei nos céus de uma escada escura da paixão
Escolho você para chorar no imprescindível voar

Lili em 22


Em um quadril recheado de recalques, o peito amolece em amor
Nas vestes puras e delicadas, o corpo se desfaz em dor
Nas purezas de um constrangimento se esconde todo o seu desejo
No mal entendimento da poesia se esconde sua respiração
Na vida você esconde o amor
Nos gritos escondemos o amor
Que a exaltação da vida passe além das mentes quadradas
Que a sua vida seja molhada em animais, plantas e olhos
Que olhos te levem ao amor
Que olhos te tirem do preconceito
Que olhos aceitem as diferenças
Que você ame as diferenças

Em pipocas jogadas debaixo do sofá, nossos carros corriam pela garagem
As buzinas cobriam árvores de natal
Éguas corriam fazendo o choque desmaiar
E em lágrimas, fez-se Danada
Nos chutes de cadelas que te faziam segurar a inocência
Nas lipoaspirações adormecia seu sorriso

Eu te amo
Abrace suas vergonhas, vamos respirar as rejeições familiares
Vamos nadar em amor
Vamos unir nosso sangue

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Árvore da madrugada

Esfrego vinhos enquanto jogo ao alto a Major Diogo
Sou espremida em meio a bagunças arranhadas
Minha cama possui uma faixa de ideologias
Vou necessitando da madrugada bem vivida
Vou pulsando conversas, 
sentindo notas excitantes 
e jogando sabão nas estrelas

Gato babado

Eu sinto as falas sendo feitas enquanto cigarros cobrem minha vontade de Teatro Oficina.
Olhares desprezíveis me lateralizam molhando barba e cuspindo meus líquidos brancos.
Ainda sou o que distancia a voz da garganta, o corpo da pele e a palavra da língua.
Sinto conhaques em meus olhares e só preciso de um abraço que cubra minha existência com poesia.
Fingirei virgindades recalcadas que sorriem falsas palavras
Jogo apenas memória de Teatro Oficina.
Danço no ritmo da cor africana
Molho meu seio com passos escuros.
Deixo os olhos irem até a gordura que cansa os afastamentos falsos.
Não sei qual a razão da arte.
Apenas preciso fugir da vida com um sorriso indeciso.
Quero jogar meu corpo na rua, colorir minha vagina com folhas de fichário anônimas e abandonadas.
Minha rouquidão me prende em urinas tristes.
Ainda sinto o cheiro da solidão plantada na delícia de ser quem eu sou.
Pra que serve o teatro?
Por que vivo?
Preciso ser meu corpo antes de qualquer instância paroxista do meu ego.

sábado, 15 de setembro de 2012

Lágrimas pesadas

Sorrio enquanto meu peito morde minha existência
Caminho com passos pesados cantando minha dor na cidade
Cidade sem o fim do som que me atormenta por aqui estar.

O que é esse mundo?

Vou sendo feita pra acabar
Nua com a mão em qualquer arte que me salve da vida.
Meu deslocamento nesse tempo-espaço me alivia na loucura de uma falsa paciência
Eu não caibo em mim.
Eu sou pouco pra existir com minha alma.
Minha alma me bate e acorrenta meus músculos cansados.

Dou pausas para sentir a dor prazerosa do meu choro dolorido.
Não ouvirei cobranças em meu peito.
Meu sujo distribuindo amor.
Me afogo nas minhas mentiras.
Não consigo ser mais que uma falsa existência.
Vou buscando quem eu sou fugindo da verdade que tanto amo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Pecado apolíneo

A escrita me chama enquanto o estômago arranha o som da madrugada
Meus olhos caem como gotas de chuva em dias de paixão
Bocas se esfregam em olhos quentes
Beijos arranham o peito da noite
Eu sou do imediatismo que me der amor
Eu abomino a organização que me tire a dor

opa
oba
quando até as letras se beijam
Pegue na parte de fora da minha alma
Vamos tatear o amor

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Deslocada

Não houve ao menos pianos cantando hoje.
Estou mais sem graça que uma top model magrela na passarela.
Chego a sorrir grosserias.
Sinto dificuldade de sorrir.
Onde estou?
Onde está minha essência.
Então vejo minhas verdades me engolindo, estou coberta de mim mesma, estou cansada de mim.
Minhas isabellas me cansam, não sei mais ser eu.
Sou a estátua da iminência.
Sou a tentativa.
Sou o início de tudo e nenhum fim.
Não possuo caminhos, sou só desejos.
Me dê um gole de vida.
Sinto que nem a morte seria capaz de me tirar de mim mesma.
Poderia morrer.
Sentir a frieza, sentir o ser parado ao parar na vida.
Qual o sentido de viver estando parada?
Eu sou o nada.
Nada.
Não digam o nada gritado, o nada irônico, 
não matem a dor do nada, 
não ignorem a solidão do nada.
Estou então colhendo minha irreverência? 
Colhendo a rebeldia?
Me lembro das minhas alegrias agora que estou só no mundo cheirando a monotonia.
Não sei como olhar para outro ponto de vida.
Preciso sair do frio que me consome.
E ninguém sentirá minha falta, 
nem mesmo a solidão, quem nunca me abandona.
E se eu saísse dessa existência?
ME DÊ UM GOLE DE VIDA.
Só me sinto deslocada, 
deslocada de tudo, 
sou a estrada do mar, 
o poste do sol 
ou a janela da lua.
Sinto minha lágrima fria e lenta que aquece minha angústia.
Cadê o amor?
Não há limite no anormal.
Nua com a minha poesia, pobre poesia.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Amizade

Nós nos ensinamos o desapego
Nós nos modificamos como fariam os loucos
Entregamos as reflexões
Fui buscando recordações
Entrando em escuros sonos
Quando você me ligou e o conforto banhou minha solidão
Cantaremos liberdade aos desejos
Traçaremos ciências sociais nos seus caminhos
Ou caminharemos leve pelo inesperado
As ruas te esperam, vá.

Janela de todo dia

Estou parada andando a 30 km/h.
Tenho um corte profundo onde passa a rua Fortunato em mim.
Novos anos arremessam mochilas que engolem chaves e guarda-chuvas emprestados em dia de sexo.
Há sempre um mistério na minha voz, no meu profundo diálogo comigo mesma.
Não ouço mais as gasolinas sendo introduzidas em meninas loiras.
Ouço o lixo das repetições chovendo.
Mas engulo minha incapacidade de fazer no mundo.

Fogueira da zona

A realidade sempre me cansa, 
realidade que eu gosto de chupar pelas vértebras, 
respirar a natureza 
e ter o que o amor mais estiver pronto a molhar.

Não há ninguém que mereça a mediocridade e ignorância.

Um lugar que chega em mim como luas cortadas por nuvem esfumaçadas que cheiram o incenso da falsidade.
Minha insegurança é do tamanho dos tantos beijos que damos aos outros.
Meu sexo está lento e cheirando hortelã com banana madura.
Minha escrita cria rédeas e a isso, todo o meu desprezo.

Minha constante insatisfação, 
minha constante comodidade, 
meu inconstante ser.

Eu preciso sentar ao lado de fogueiras 
e receber todo o calor de José Celso Martinez Corrêa, 
mergulhar no amor das terras e torres.
Banhar-me em espelhos que cortam troncos de árvores.

A existência está sendo carregada morro abaixo.
O que faria a infelicidade exacerbar?
O corte da ilusão, o fim das minhas tantas invenções.
Fui tatuada pela hipocrisia,
fui jogada na ignorância,
estou deitada no esquecimento
e só sou capaz de roncar solidão.

Árvore inglesa

Em campos de memórias inatingíveis, 
meus olhos escutam fantasias 
e voam por cubos que andam pelo céu com árvores nos interiores de teatros.
O ar de uma camisa se choca com a água que cobre a maconha de São Paulo.
O amor jogado por seres incabíveis aos próprios corpos.

Os impulsos são barrados e coloco meu ser julgador à frente das possibilidades de belas poesias.

Mal compreendo o calor que escorre por microfones.

A língua inglesa me tira de cadeiras vermelhas e leva idosos ao choro da dor com a solidão pequena que corrói cada gota de unha.
As atmosferas de livros e encontros teatrais trazem a incompreensão emanada pelos meus olhos que algo querem exalar.
Voltam as vestimentas brancas e em 775 gemidos as mãos vão até o joelho como que calando os balanços estralados.

Nada sai a não ser a incompreensão.

O automático movimento se vira como que coreografado enquanto eu continuo 
falando de nada para o nada.
Não há mais questões para molhar minha ignorância.

Quero ouvir a fluidez do velho sábio, sugar seu amor e colher sua arte.
A frieza dos ingleses está me cansando, porém suas traduções riem cheirando Dionísio.
Deus surge nos ouvidos enquanto pulam palmas no meu colo.

domingo, 2 de setembro de 2012

Professores De Teologia

Voltaria dessas noites em festa pelo resto da vida
Assovio ao asfalto e jogo ar nas molduras dos corpos
Sinais de trânsito me atravessam sem piedade
Círculos vermelhos interrompem o fluxo
Não haveria outra maneira de embebedar a cidade de madrugada
Apenas riscando sangue em nossos dedos e joelhos dos corpos jogados e beijados na rua
Sua cabeça se inclina no horizonte
Seus olhos cruzam luas
E você já sabia todos os caminhos antes mesmo de conhecê-los
Fechei os olhos enquanto a boca se abria ao caminhar nos impulsos azuis da sua barba
Pequena camponesa que atravessa a floresta
Colando sambistas deslocados pela tecnologia
As fontes se revelam sobre o ventre
As danças voam nas costelas
Quando uma harpa sustenta a tarde com a precisão do corte
E as cordas da plebe arrebentam com cheiro de hortelã
Os lábios renascem de madrugada no exato minuto em que o bem-te-vi dá as mãos ao tigre de bengala.

(Isabella Dragão & Paulo Sposati Ortiz)

Família sem janela


Onde se encontra o amor de uma família?
Nas discussões sem sentido,
nas entonações estressantes,
nos mandamentos,
nos julgamentos,
nas submissões,
nas televisões,
apenas nas televisões.
Matam qualquer demonstração de amor porque precisam assistir a televisão,
apenas a televisão.
A casa está repleta de janelas altas, janelas belas que avistam paisagens, riquezas e céus tão belos quanto nossos olhos,
apenas nosso s olhos,
ainda os olhos guardam a nossa beleza.
As janelas estão ali, e sempre fechadas.
É como termos olhos e visão perfeitos e deixa-los fechados,
sempre buscando algo na escuridão,
apenas na televisão.
Sim, a televisão realmente matou a janela.
E nessa casa a morte da janela traz a morte da tranquilidade e de demonstrações de amor.
Por que vivem, por que vivemos?
Eu me sinto tão fora dessa casa, dessa família...
Ainda sinto algumas buscas de compreensões vindas do paterno, mas ele está sozinho nessa busca por alguma janela aberta.
Mas o abraço está dependente,
depende do modelo consumido de beleza que motiva sua vida.
Não consigo achar graça das risadas, quando riem, quando deixam ao lado os gritos e nervosismos baratos, eu sou quem não consegue sair de um interior triste e é impossível rir junto.
Qual a vida disso? Será que nunca verão poesia na vida?
Será que nunca olharão o céu e valorizarão a lua cheia?
Ah, eu só tenho a piedade para pedir aqui...
Pra essa gente careta e covarde que corre no meu sangue, que corre em multidões de vida, que corre, tudo corre, tudo corre ao encontro de simulacros, de vazios pobres.
Mas não diga nada, afinal, o que pensarão de nós?
A nossa vida é dos outros aliás...
Apenas a opinião deles nos faz viver, o que nos move é a opinião alheia.
Sempre assim o caminho das vozes estressantes da minha família.

sábado, 1 de setembro de 2012

Areia

Estou sorrindo à mim mesma.
Estou dançando em meu brilho no olhar.
Meus olhos vão onde estiver algo de um pouco molhado.
Jorrarei sangue pela boca enquanto ouço Chico dançar em sua poesia feminina.
A homossexualidade das meninas tristes corta caminhões e adormece em tesouras sem corte que se arrastam.
Tudo vai se arrastando pelos meus pés indo ao encontro de outros.
A terra entra pelo meu umbigo e me mostra famílias que moram entre morros secos e viadutos, 
como posso continuar falando de amor ao ver tamanha pobreza e tristeza seca?

Redemoinho

Meu peito se abriu como um rio desabando em ondas fortes, 
o vazio brotou enquanto foi rasgado com a correnteza.
De um lado para o outro eu boio sozinha no mar do próprio peito.
Sinto a região banhada de sangue, 
meu sangue virou um mar no meu peito, 
que às vezes deságua para os cantos em círculos, 
noutras canta com ondas que sobem ao pescoço e ali se concentra todo o sentimento que houver nesse sangue.
Meu sangue se movimenta ingenuamente. 
Minha dor é cessada, mentira.
Hoje eu tenho várias pedras no peito.

O amor é feito de mentiras.
A existência está afogada em enganos e ações falsas queimadas pelo interesse.
As maturidades sempre se aproveitando da minha vontade de viver.
Eu prefiro me enganar me jogando onde meu corpo precisar pular.

Meu rio sanguíneo volta a correr tranquilamente, mentira.

Onde está a nuvem que dança ao sair do olhar da lua?
Logo aparece.

Meu sangue poderia disparar minha metralhadora cheia de mágoas.

Deus e poesia não são as mesmas coisas?

Notas ao amor

Peço emprestadas as vísceras para fazer poesia.
É tão simples saber o que será de quem se relaciona, basta sentir.
Sentir.
Como é bom viver com a verdade, ou apenas buscando a verdade. Hoje, pela rara vez, preciso do texto corrido, abandonar os versos por poucos instantes. Minha vontade agora é cantar nesse ônibus, olhar nos olhos dos desconhecidos, sentir o outro, talvez sorrir, talvez somente olhar. Eu necessito que olhem nos meus olhos, vou andando por aí buscando olhos, meus olhos estão sempre querendo sugar e serem sugados por outros.
O sol batendo na janela por onde vejo o Tietê, a sombra da minha pele em um relacionamento sensorial tão delicado e forte, tão qualquer coisa, minha mão beijando o papel.
Ontem eu olhei nos olhos dos que muito me fizeram chorar.
Talvez eles não saibam o quanto de lágrimas meu cérebro jogou pra fora por eles enquanto ocupavam meu corpo todo.
Eu os abracei com a intenção de fazê-los meus, os dois ao mesmo tempo, pelo menos por cinco segundos eles foram meus, foram do meu abraço e do meu amor. (Como sou hipócrita usando palavras e afetos de posse) Apenas isso, apenas cinco segundos. Em nenhum momento anterior a esse eles estiveram comigo realmente, mesmo em tantos beijos, reflexões, chuvas, skypes, camas e escadas de incêndios ou halls de prédios. Tão diferente e tão igual o que eu sinto por vocês, o amor. Sim, o amor. Afeto tão bonito que estremece meu corpo em tantos choros.
No colo dele eu chorei por eles,
tocava-o com amor e só recebia a dor.
Minha vida parece ser até poética.
Ela é poética.
Mas eu sou sim  banhada por algo maior, alguns diriam abençoada, outros sortuda, eu digo, não digo nada, apenas sinto. Não sei nem porque escrevo se o que sinto é tão raro (raro?), tão leve e tão forte. Ah, eu amo sentir, me faça sentir algo, por favor.
Acabei com a tinta da caneta de uma alma tão querida sentada ao meu lado.
Mas ali, quando doía meu afeto dúbio, duplo e ambíguo, quando precisava de choro e beijo, surgiu um ser que cai na rua comigo, me faz sentir que não estou sozinha. Sou sozinha, mas não estou.
"Das feridas das queridas despedidas de quem sentiu todo os momentos".
Você, alma barbuda das ruas, é como a flecha do arco do arco do arco-íris, você tem o amor celestial, você tem tanta beleza.
Há belezas imensas no seu ouvido que me escuta, na orelha que eu beijo, na língua que eu brinco, nos braços que me cercam, no tronco que eu me penduro, na poesia do seu íntimo, nas suas falas confortáveis, nos seus olhos azuis que me abraçam, você consegue me abraçar com os olhos, você consegue me abraçar só por existir.
Assim como o sabiá...
Talvez você, rua deitada e beijada, seja outro, o próximo a me fazer chorar. Você tem o meu afeto, meu beijo e meu conforto. Seu samba miudinho faz meus pelos pulsarem dança. Nosso beijo dançado faz círculos no chão e no ar.
Obrigada por existir.
Quero sempre pisar na ilusão e voar na entrega.
Ontem foi como ventanias e brisas que brincam com a existência.
Nos beijamos deitados na rua.
Eles se beijaram intensamente ao meu lado sem saberem. Achando que o fumódromo era como caixas pretas, quando são de vidro. Enquanto o beijo deles se fazia bom, eu cantava chorando com a lua, eu recebia o amor da lua. Um casal se preocupou, quase derrubei repartições, chorei intensamente onde ninguém me via e eu via todos. Vi o enlace de vocês no bar, dancei no chão, coloquei minha dor no movimento, dancei chorando onde me escondia de qualquer vista e julgamento. Te chamam de ladrão, bicha, maconheiro, puta, sapatona, louca, bêbada (quando apenas bebi o ar do meu corpo), inconsequente, impertinente, imatura, isabella.
Agora só preciso dos verdes mares, choques marrons e chuvas pretas, desse céu tão bonito. Vou respirar o azul claro da minha vida. No céu, no mp3, no Bonsai e no fígado.
Ouvir Caetano e olhar meu oxigênio poético passando por aí.
Fechar os olhos e sentir as poesias escolhidas pelo sabiá.
Deitar poltronas enquanto a vida vai a rodar.
Minha existência vai sendo feita por vocês.
Se a morte me vier amanhã, virá tranquila pois te disse que te amo.
Abandonei toda e qualquer regra do amor e prefiro banalizar o meu "eu te amo" e "boa vida" do que sair da vida de vocês sem dizer o quanto vocês importam pra mim.
Obrigada por me darem amor, por me deixarem inventar amores entre nós.
Agora apenas sorrio engolindo o amor e banhando minha memória em vocês.
À quatro almas e ao amor,
ou apenas ao amor,
meu dever e submissão absolutos ao amor.
Não me matem dentro de vocês, pelo menos nessa vida.