domingo, 31 de março de 2013

Sem

Limpo o banheiro
Ao torcer o pano, torço mais meu coração
São jorradas mais lágrimas que água do pano

Silêncio e nostalgia

Leio aqueles seus velhos poemas
Na esperança de cessar esse silêncio
Na ânsia de ouvir qualquer coisa de você

E não sei o que dói mais.

Não ser

Podia ser fácil
Como casaizinhos de minha idade
Que exclamam amor e beleza

Mas não é.

É pesado.
É traído.
É saudoso.
É distante.
É sólido.
É ingrato.
É
É vazio.
Só não é.
Ficou lá sem nem poder existir.

Saudade

Saudade
Preguiça
Saudade
Tristeza
Saudade
Sinusite
Saudade
Amante
Saudade
Rejeitada
Saudade
Ignorada
Saudade
Ignorante
Saudade
Apego
Saudade
Saudade
Saudade

sábado, 30 de março de 2013

Sobre minhas saudades

E é de novo aquela saudade
E é de novo a barreira em meus todos lábios
Você tomou meus lábios e não sei dar pra mais ninguém

Os bipes da ligação conversam comigo
Conversam a solidão de ser ignorada
Tudo se repete

Eu volto
Eu volto
Eu volto

Aqui, ao sentir família
Sinto você

Qualquer coisa assim sobre você

Não sei me entregar por inteira onde não for você
Não sei pousar o meu amor onde não for você

E ele lá, querendo me jogar num outro abismo
Ele agora é você
Ele agora fala sobre meus olhos

E esse ciclo sem fim
O ciclo da traição

Volto quando disse: eles não podem atender

Escrevo pra não mentir
Mas não posso alimentar essa saudade
Não posso dar alimento ao leão amante

"A fragilidade do cristal não é fraqueza, mas pureza."  Christopher Johnson Mccandless/Alexander Supertramp

Busca - selvageria moída

A vida é um moinho, a natureza é selvagem
Mas ainda minha dor foi tamanha numa loucura
Que me abriu espaço para cura

A nossa radicalidade só pode nos levar à morte, queridos
A nossa impulsividade abre nossas entranhas para aids e batatas venenosas

Mas naquele dia dezoito,
Naquela semana de outubro,
A dor em mim me guiou à luz que ainda faz dos moinhos e da selvageria, apenas sombras

Meus sentidos, minha pele, minha sensibilidade
Recebiam toda a dor do mundo
Toda a angústia da cruel hostilidade
Eu não suportava tamanha mentira
A hipocrisia plantada, enraizada
Eu via a injustiça
Eu via o não ao prazer
Eu via tudo o que vinha para derrubar minha ingenuidade
Minha ingenuidade recebia todo o cimento dessa society que não sentiria minha falta
Chorei
Disse tchau
Me despedi de cada um, como se nunca mais fossemos nos encontrar
Em minha intuição um tanto quanto ignorante, ouvia a morte
Ouvia o nunca mais
Cantava com Cazuza, cantava que o mundo tritura meus sonhos tão mesquinhos
E era cedo, sim, eu mal comecei a conhecer a vida
Fui andando
Andei sem rumo
Andei pra onde minha profunda intuição guiava
Chorava
Sentia a vida se esvaindo
Sentia a dor da crueldade
Chorava e dizia
Cantava
Dizia tchau para desconhecidos que não são menos que eu mesma, que são todos nós
Em meio a um choro, à latência da angústia, vinha:

"Eu... Eu quero gravar esse momento. Porque eu não sei pra onde eu to indo.Eu não sei pra onde eu to indo na vida, eu não sei pra onde eu to indo na rua que eu to. Eu to pedindo nduahruoe eu queria morrer. Eu queria morrer porque... Porque a vida me dói. Mas eu gosto dessa dor. Mas pra expandir o amor. Eu queria morrer pra expandir o amor. Eu queria morrer pra uhifdmehuqonjhak. Eu duiwnwui que a gente uidhsdgys com o outro, que a gente nfioudhudsuekr. Eu sou tão ingênua. Eu não sei nada da vida e eu to falando tudo isso. Eu não sei nada da vida. Eu só sei que eu queria morrer. Eu queria morrer. Eu disse: tchau. Eu disse os tchaus mais lindos da minha vida. Eu disse tchau pra uma pessoa na rua, e tchau pra mais outra pessoa na rua, e mais um: tchau. E fuiejeu esse momento, tchau. Eu to dando tchau... Eu to dando tchau pra esse momento ou eu to dando tchau pra vida? Se eu estou dizendo tchau pra vida, eu estou dizendo um tchau oifdhsu. Um tchau com amor. Muito amor. Ndsuhduejmorte. Eu quero a sorte de um amor tranquilo.Amor tranquilo. Eu posso estar fazendo graça, eu posso estar exagerando, eu posso estar qualquer coisa, mas fuiewhfewgbewrhwprowehutrerl. Eu não sei. Eu não sei. Eu quero muito dsiuahuisd o que eu senti ontem, o que eu senti ontem... É isso. Eu só tenho vontade de viver, eu só tenho vontade de viver pra isso. Eu só tenho vontade de viver se for pra fazer arte. Eu só tenho vontade de viver ioajsfelkfeneuj pra ficar andando cheia de argila em cima de mim e uma venda no olho ufehwihuwe nduwhiew nufewuiewo eu só quero viver pra transbordar, pra transbordar qualquer que esteja no meu olho. Que essa coisa esteja molhada, molhada, molhada.Que esteja molhada por amor. Que esteja molhada. Que esteja molhada por vida. Que esteja molhada pela luz. Pela luz que é a vida. Ndusiashuasiiiii, aaaaaaa, fiouejrfewjeoi aaaa vida. A vida é muito linda. iudjiuehue a gente precisa sentir que a vida é linda, o que a gente tá fazendo com essa vida que é linda? foiedjfhiudhfigheiurhiuergh PRA QUE? Pra que? Pra que viver pra ganhar dinheiro? Pra que? A vida é tão linda... Deus... Deus, no melhor sentido possível. Deus no sentido que eu possa substituir a palavra deus pela palavra vida. Deus... Deus soiqjewuiqeeee essa sombra desse mura que tá na minha frente tava tapando a luz. fdeuiwhjeuithuer tchau!  - outra voz: "pra quem você disse tchau?" - pra você. "Por que?" "

E de toda aquela angústia, veio uma alegria tão sombria quanto
E ela, com toda aquela ingenuidade, falava com oficineiros e motoristas de caminhão
E dançou no viaduto
Rodava
Cantava
Começava a dizer tchau às pessoas dos carros que passavam
Jogava toda sua ingenuidade aos tantos carros paulistanos
Acenava aos oficineiros e motoristas de caminhão, agradecendo-os
E dançava
Chorava agora com sorrisos
E dizia saber o porque viver
Olhava o céu, olhava a cidade e pensava que vivia pra união com isso
Pra intervir, pra relacionar, pra performar 

Dessa sombra algumas horas se passaram
Veio balada
Veio distribuição de prazer
Veio suor advindo da alegria eufórica
Veio feminismo sem camiseta
Veio exasperação
Veio descontrole
Ela não cabia no próprio corpo
A energia era tanta que não sabia para onde ia
Ela não sabia ao menos ver e controlar tanta energia
Ela soltava
Ela ria
Ela pensava libertar
Mas só se aprisionava na libertinagem

Não demorou para vir um telefonema
E a ordem da família para a volta à cidade natal
E então que tudo o que pulsava era a fuga
Era dormir na rua
Era se desvencilhar da sociedade
Era desviar do moinho
Era a loucura

A vida para ela não era isso
Aquilo não era vida
Aquilo para ela não servia como ar pra qualquer respiro

Pensava aceitar empréstimo de amigo e fugir

Mas de amigos ainda vinham boas energias
E de Deus ainda veio alguma calmaria

O que não bastou

A dor persistia
A profunda incompreensão corroía cada gota de seu sangue
De nítido, era só o choro doído

E mais nítida, a necessidade de ajuda
Sentia-se doente
Extremamente doente
Sabia que a doença vinha dela e pra ela
Mas que dela não viria a cura, não somente dela
Era o chamado da lou(cura)

Ligou para aquele irmão, aquele amigo, aquele maior amor
Ligou pro sabiá
Implorava o budismo ou o espiritismo
Encontrou a psicologia
Mas queria mais, queria Deus

Foi o mesmo sabiá que mostrou o caminho do fogo espiritual
E foi lá que correu pra curar a loucura
Foi lá
E por passinho depois de passinho
Xamã te guia

Há meses, cantar o mundo é um moinho era tamanha dor em meu peito
Hoje sei, o mundo é um moinho
Mas sei mais, sei com todo o ser, sei com a fé
Sei que há para onde transcender
Sei que isso é apenas nosso caminhar
Sei que a radicalidade ficou lá atras
E que a busca pelo equilíbrio guia
Sei que nada mais me move do que a busca pela Verdade
E aquilo que dizia ser amor, sei que não é amor
E que para amor estou aos poucos costurando essa renda que é meu caminhar

Hoje ainda me afogo na confusão
Mas hoje acredito que há uma luz que faz projetar toda essa sombra


domingo, 24 de março de 2013

Deriva

E coloco fim sem fim na deriva.
O que vi, quis penetrar.
E pousei a calma nos meus passos.
Me permiti olhar, apenas olhar.
Estar.
Obedecerei alguma cronologia já que o tempo estava escrito em letras pretas e cursivas numa porta da Belmiro.
Agora antes faço parêntesis só pra escrever um pouco dessa pouca limpeza tranquila que tomei.

Domingo.
O que já basta pra saber que a movimentação era atípica.
O que vi?
Dia nublado e garoa, pra permear minha observação de slogan paulistano.
Liguei pra aquela amiga querida do interior e sua ordem foi: direita.
Reto eu ia e pensava nos ônibus que poderiam me escolher.
Pinheiros, foi esse o que acenou pra mim e me pediu pra parar e entrar.
Obedeci.
Ela, preocupada, perguntava se eu sabia para onde ia.
Temperei esse caminho com uma conversa de matar saudade e de nascer um peso acidental.
Mas aqui só desenharei a deriva.
Imaginava Benedito Calixto e ao lembrá-la, pedi que me pedisse parar quando a intuição tocasse.
Do ônibus saltei na frente do cemitério. Bom cenário pra deriva.
Mas o telefone continuava a falar e nossa troca era bonita.
Ela me guiou para longe do cemitério

quinta-feira, 21 de março de 2013

Dança pessoal

Rastreei essa folha por espaço.
Espaço para arte,
espaço para expressão.
Traço no espaço desse passo de te amar.
Deixo o que vem matar do que pensei
e fotografo aquela poesia
que de novo só não saiu de mim.
Estou dançando nesse interior de menina inquieta,
viro ar e respiro os braços ao alto,
voando na expiração.
Um peito de fora,
o mamilo querendo voar
e a dança que nunca para.

Diana e chuva

A chuva desenhou nossa alegria pelas ruas.
Nossa cantoria era temperada pelas gotas do céu,
o meio das ruas era nossa calçada,
nosso palco do viver.
E como num esculacho do riso,
o divertimento urinou
giros homogeneizados
em chuva, chuva, chuva.

Balanço da ilusão

Meu recuo de folha onde escrevo linguagem visual,
me fixo e me moldo
me amoleço e me brinco.
Eu e eu ficam aqui lutando e amando,
mas ainda não conhecem o amor da união.
Eu te fixei no meu passado,
te lembrei no meu futuro,
mas agora eu sei o não sei de você.
Agora eu corro pro passado
ou futuro dos meus pensamentos ilusórios

Anti-poesia


Me falta o registro de tanta poesia.
Meus olhos percebem tanta poesia...
A poesia é o que é,
tudo o que existe é poesia
e toda essa minha utopia.
Vem a mim
e o registro fica num futuro que não conheço,
num futuro que não verei.
Então torno toda essa poesia
o cúmulo do egoísmo
ou o cúmulo das auto-carícias.
Vejo poesia
Ouço poesia
Penso poesia
Sou poesia
Mas guardo aqui
e ninguém vê.

O máximo que te dou é o meu olhar e meu movimento.
Mas o mundo me dá poesia.
O mundo me é artisticamente generoso.
Falta eu te dar essa poesia
e limpas essas angústias sombrias.

Mar cranial

As raízes dos meus olhos são águas salgadas,
são lágrimas.
Por isso não se assuste se ao te olhar profundamente,
passar a boiar os olhos.


sexta-feira, 15 de março de 2013

Ausentes

A bagunça impera aqui
Da alegria esqueci de fazer poesia
Não sei para onde foi o tempo em que não era amor por você
Minha carência fica na garganta
Eles, eles são cumprimentos de mão
Enquanto você é abraço
Não sei de você
Sei querer você
Eu fiquei num canto da sua fantasia
E sou bexiga que luta contra o vento depois de ser solta
Eu não caibo mais na sua poesia
Muito menos na sua alegria
Eu fiquei nesse seu canto de somente ira
Não me sustento e a gula me segura
Quando não sei onde cair, ansiedade vem me pegar
E fico aqui, nadando nessa angústia
Mas não sei de nada, sou apenas menina de intenções distorcidas
E amores amassados, arranhados, marcados
Sou um baú de choro
Por isso rio
Rio de desejo

Foi-se o dia em que existia sabiá em nós
Eu realmente só tenho a poesia
Só tenho a mim

terça-feira, 12 de março de 2013

Verdade revirada

Fui revirada
Pegaram a verdade, dobraram-na num origami sem fim
Esconderam em mim
E quanto mais penso vê-la
Mas ela me revira

E em mim jogaram minhas fraquezas
Sou a interminável onda da obsessão
Sou o ímpeto que não se sustenta
Sou desejo, sou medo
Mas ainda deve haver algo que isso ilumine
Me enrosco nas armadilhas da ilusão
Me ensine a ver
Me mostre a verdade

A angústia entupiu minha garganta
E choro, só choro


domingo, 10 de março de 2013

Balagan

Eles desenhavam o infinito com os pés
E subia o cheiro de canela
Energia que veio dessa arte de riqueza
Presenciei agora o que são atores
A mais bela riqueza
Estes homens foram esculpidos por Deus
E como se não bastasse
A Vida não só os esculpiu
Mas musicou
Dançou
Performou
O sagrado os fez de canal
E eles vão, fazem, recusam.

Recusa

Nos esqueceram por debaixo dos bambus
Nos esquecemos por debaixo dos bambus
Cadê nossas crenças?
Onde foi parar nossa sabedoria espiritual?

É preciso abrir caminho por entre os bambus
Para passarmos para além do nada desses prédios que nos envolvem

O infinito ainda está aqui
Nossa ancestralidade nos chama 
E clama por ser vista.

Atrás do capital há vida
Há natureza.

Fila

Fingindo qualquer charme que me cale nessa fluida solidão.
Meus fluidos são sutis como água gaseificada.
Invento por não saber o que tirar do tédio.

sábado, 9 de março de 2013

Maracatu

É o grande acontecimento
O acontecimento maracatu

Os abes vibram nos sorrisos das moças
O suor é só mais um brilho entre toda beleza da alegria dessa grande festa
Saias que voam ao rodar pelos sons neste baque
Aquela menina tem o vermelho nos lábios 
E brotam flores nos passos dos braços dessas rainhas de mares e ares

Mas não há nada mais belo
que este homem com infinitas saias, saltos, brincos
e movimentando toda a androgenia que o sagrado suportar

Uma negra suada vai no rebolado até seu sorriso cansar

Ô beleza de maracatu!

E nem sei qual meu pontual lugar
Lá ou aqui sorrindo
E tentando palavrear essa poesia dum movimento cultural
Minha irmã dia sua
Doem suas pernas
E nela canta toda beleza pura.

É alegria
Alegria da dança
Do batuque
Do movimento do canto
E tão só alegria

Os adornos embalam com a peculiaridade de esculpir.

As meninas dos abes não sabem ser outra coisa se não beleza
O calcanhar que circula o eixo e o giro vai, vai, vai
Me arrepiei ao sentir a ciranda fechando essa exaltação de alegria

sexta-feira, 8 de março de 2013

Céu que abre

Oro pelo amor e cuidado de mim pra mim
Soltarei os chicotes
E acalentarei meu peito
Terei a mim como filha
E filha de amor
Para só então transbordar amor
Escutarei outros corpos com a sutileza desse amor
E massagearei quando o carinho verdadeiro em mim brotar
Oro por cuidado
Tomarei um banho de cuidado
Esticarei a dor no amor tão sutil quanto uma brisa
E me lavarei nesse mesmo instante em que a chuva passa e o céu abre
Eu e céu somos um só
O sagrado nos beira

Minhas lágrimas cairão nesse chá de sálvia
Permanecerei em mim
Engolirei músicas
Ouvirei florais

Vem o sol no prédio a frente de mim
Ele bate ali no mesmo instante em que começo a sorrir
Por acreditar em mim

Por chorar sem saber
Sei que sei crer

E sinto dessa rua, minha casa

Escuridão

Entalado aqui o que não sei mais de mim
Em cima de um, 
fui colocando outro, 
em cima de dois, 
veio vindo outro.
Estou ali já saindo daqui.
Ou não estou  em lugar algum.
Ou estou em mim, 
tão somente em mim.
Ou tão distante de mim.
Onde estou é ali na corda invisível da angústia que insiste em ser só.
Só sou sol que brilha mas não sabe anoitecer.
Ou sol que se esconde na escuridão pura do dia.
Meu peito nada à minha garganta e vaza aos meus olhos.
E só a poesia é companhia.
Pois consciência já me fugiu.
E não sei o que dói em mim, 
por que dói em mim.
O que dói em mim?
Vou te sorrir mas não sei fingir.
Meus olhos tomam a voz da minha boca, 
meu tremor toca o movimento da minha poesia. 

Escola de letras inversas

Meu peito desloca meus ossos ao tremor
Fui estuprada pela ansiedade

Neste lugar de passado marcado, 
neutralidade e calma fogem de mim.
Aqui só me trago em necessidade.
A antipatia destes de hoje
em contraponto
com a bela abertura e sorrisos 
dos que me viam 
quando a aqui ainda pertencia.
Luzes azuis para esconder a escuridão.

E meu peito ainda não se aquietou, 
enquanto seus pés virados para foram caminham logo para aqui.

Dor

Dói o peito.
Muito.
Dói a garganta.
Muito.
Meu tremor se encaixa nessa choro tão dolorido.


terça-feira, 5 de março de 2013

Velório

Necessito vestir o preto e lutar em meu luto
Ou luto ou melancolia, assim dizia o óide
E de melancolia te fazia
Até um ontem ou outro dia
Escorrego nos quereres de e-mail
Mas vejo o preto
E te vejo morto
Para então te transformar num antepassado
Comer suas vísceras ou seu pênis
Digerir seu gozo recalcado
E defecar seu moralismo
E então, mas só então, te ver proteção e amor divino
Isso tudo é fruto do meu amor
E de toda e qualquer sombra que em mim pretear

Beibeie

Vesti aquele outro vestido florido 
Brinquei de saúde pelos versos da manhã clara
Refleti a existência
Aprendi indígenas
Sublinhei o luto
Desenho a fronteira do mito
Canto ao céu com espumas de nuvens
E por não nos termos, ouvi e sorri com aquele casal
Ele veio por trás com o grave e sutil, tão poético quanto sua solidão
Ela arrastou beibeie pela voz doce, velha e louca
E fui junto
Vou indo
Só canto e trago o ritmo do rito num movimento
Sempre numa dança, sem esquecer da minha dança
Que se dança não é minha
E se é minha, só dança.

domingo, 3 de março de 2013

Barreira da verdade

O mar verde dos seus olhos transbordaram no sal das lágrimas
Minha verdade nos puxa para longe
E de tão longe, nos abraçamos
Nos beijamos como se nos despedíssemos
Nossas lágrimas clamavam por calma
O sol que pulsa entre seus olhos
É da compreensão indígena
E aqui ando na angústia do meu peito
Que sabe do que ama
E por isso chama

A gratidão nos envolveu na raiz do seu cheiro
Numa mordida singela, me deixei levar pelos sentidos
Caí da aparência dos meus desejos
Até negar seu desejo
E te ver numa partida tensa



A mentira desse sono

É hora de apagar as velas
e saudar ao dia
o movimento rápido das nuvens

Fechar os olhos
e fingir que anoitece
para o movimento transmutar-se em sonhos

Alvorecer

É nessa madrugada que me despeço de minha única companhia,
eu mesma e meu silêncio barulhento.
Às cinco da manhã abro a janela
e finjo me esconder atrás das cortinas.
Quero ver o dia nascendo
o dia que será ponto final em minha moradia tão só minha.
Logo outra cama chega e compartilharei minhas transformações.

Vejo um encontro de taxistas quando meus ouvidos encontram a manhã.

Nessa mesma madrugada meu banho foi sustentado por vibrações indecifráveis.
Meus olhos pregam os poucos movimentos da rua.

Li, numa flor do dia, que meu medo um dia seguirá ao céu

Nessa mesma madrugada meu peito não se calou quando a respiração pousou.
Senti o peso da minha inquietação.
Senti o barulho de minha calma que se esconde em algum futuro.

Meus sentidos não param.

Meu corpo não conhece o que é silêncio.
Minha existência ainda só soube falar, falar, falar.

Sou atraída por ali, por lá, por cá.
Meus sentidos me fazem correr em círculos viciosos da ilusão.

Só sei que te amo, sabiá, ainda te amo.
Sei do silêncio apenas teu e da saudade que colore minhas palavras.
Cor que não se sustenta se não na esperança de um amor que seja tela.

Uma leve luz vem apontando atrás da Santa Casa.
Meus olhos em alerta se conectam com os motoqueiros brutos.

Meu cheiro se pergunta onde foi que encontrei tanta solidão.
Só eu sei dessa caminhada trilhada a pé.
Ou dessa corrida que nunca soube respirar.

É como se agora nada mais existisse,
apenas meu barulho interno e um posto de gasolina abastecendo táxis.

As férias terminam, meu lar único também.
Vem chegando o domingo que deixará para trás os meses que a luz me chamou
e passei a correr ao seu encontro.

O escuro vai nos deixando.
Enquanto o céu clareia ali, meu medo se esconde em outro canto daqui.
Talvez nos dedos dos pés torcidos no chão, como se lembrassem das tantas sapatilhas carcereiras
ou nos dedos das mãos que batem em botões parteiros de palavras deste verso aqui.

Como divertimento de meu descontentamento,
brinco de fazer promessas
e o poema só cessa com a luz total do dia.

Mas de escassez de necessidade, não se nasce poesia.
E antes da luz total que via, quis interromper esse mel de cada dia.