terça-feira, 30 de abril de 2013

Sabotagem

Ah, então veio preguiça e gula pra esconder a poesia que sairia de mim ontem.
Dia que meus olhos arderam de sensibilidade tempo todo.

Judaica

E se as paredes do mundo fossem de vidro?

Num primeiro andar, meu olhar me deita nas perspectivas da Sumaré.
Os carros que passam respirando entre si.
O silêncio daqui.
Reflexo de árvores e obras de arte nesses vidros judaicos.
Árvore que reta ar.
Estrutura que é arquitetura de fazer suspirarem os olhos.
Ali pra baixo, pedras n'água.
Com passarela de metal interrompendo fluxo
e me busco para buscar ver numa mesma linha de meus pés
essas águas que engoliram pedras estáticas.
E numa passagem despretensiosa,
meus olhos colhem as pedras num lugar que antes já passei.
E minha cegueira é como pleonasmo
que precisa de outro lugar
para avistar beleza do presente.
É um tempo suspenso esse dessa arte.
É repouso e meditação
Ou apenas composição
Que colho trazendo algum estado de espírito
evocado nessas cores de impressão.
Alguns riscos vermelhos já me sonham Moscou.
Se é sol ou lua,
eu não vejo pela esfera iluminada
mas pela luz que emana,
pelo ambiente que se faz chama.

Limpeza

Ela fez limpeza profunda nessa noite de sexta-feira.
Vasculhou os pés e ordenou os pertences.
Lavou, lavou, lavou.
Transmutou até posição dos móveis.
Colocou subindo pra ouvir
Sozinha não podia se sentir.
Então se conectou com o eu
Deu voz de cura pra ambiente que é lar.
Sentiu corpo arrepiado enquanto incensava.
Viu o invisível enquanto abençoava.
Dizia-se estado de canal de cura.
Mostrava-se a ajudar almas impregnadas
Pedia pra subir
E ir
Ir
Luz

Assento preferencial

É um banco azul e toda a nossa sombra atracando o peito.
Abaixo os olhos e engulo alguma pétala da minha roupa.
Uma gestante inverte pele vermelha de 75 anos
Mas minha vergonha é tão ingênua quanto minha submissão.
Louco quem acredita.
O que pulsa aqui é orgulho
orgulho puro.
Só penso em mim.
Me faço com flores
Mas dentro há mais tantos odores.
Em caso de emergência,
silenciemo-nos.

Bate

Eu pensava ser coração seu em sexo meu
Pulsando depois do êxtase
Engano meu
Era pulsação em ventre meu
Evocada por sexo teu

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Silêncio

E aquela peça nos disse
Que a verdade está no contrário do silêncio
Ou em outras embaralhadas palavras

Enquanto você me confirma
Não pra gente

Nossa verdade mora aqui e ali
Na pausa tão efêmera quanto sol
Na eternidade de silêncio

Silêncio!
E depois, mais silêncio.
Não uses a boca para falar.
A boca é para provar dessa doçura.
Rumi

Fora de casa

E fica então só o gosto bom de cantar
Chega hora de apenas saborear
aquela emissão de santa chuva
Sorrindo
Esperando ferida aberta que te alergia

Há tempinhos,
você estrategiaria
alguma história pra me segurar,
algum romance implorando pra te amar,
alguma poesia a construir toque,
na ânsia por aproximação de corpo.

Hoje só rio
de toda essa narrativa enrolada em sombra
que inventamos aqui e lá.
Para nos prender,
nos fingir segurar,
nos amar.

O peito esterno arde.
É orgulho que me escancara, 
é falta de amar que me arrasta.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Filha, só não esquece
Que oposto da moeda ainda é moeda.

Eunós

E por não
me querer
Ao me ver
em você
Mudo
o que há em mim
que é de nós

Você sou muito eu

Bichinho bonito

Colar de vento batendo no pescoço.
Prefeito Saladino fria e calma na noite de domingo.
Meus olhos naquele todo aguado.
Corada e calma esperando trem.
Indo pra casa que toca centro,
saindo de casa que canta amor.
Enxuguei lágrimas de gozo.
Acariciei pele lisa que fez lágrimas.
Seu sorriso,
seu olhar,
seu tremor,
seu orgasmo,
seu amor.
Pra alegria,
encontrou o que antes não cabia.
Lavou o que há semanas não fazia.
Andamos pela arte
e nos movemos em dança sem fim.
Pesamos nos braços instrumento
e quadro que é presente do presente
É presente de Shindon.
Quem fez música colorida para sua parede.
Seu primeiro quadro é Shindon por você cantado.
Mendigos guardavam o banco
E a gente só ia.
Sua pele que me guia.
Porta que ainda solará.

E pra nada perder,
ainda lembro
que meus olhos são câmeras
que pulsam fotografias.
E seu coração é olho
que capta o que ao cinema caberia.

Ah, bichinho bonito,
tudo é mesmo muito grande assim 
porque Deus quer
Então te levo comigo
ao lamber tua fonte de vida.
Enquanto lembro toda poesia
que nos entra
noite e dia.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Vem

Passei o dia molhando
Só de te lembrar
E te querer

Passarei a noite criando
Só de te querer
E te esquecer

Passaria a vida cantando
Só de te ter
E não te prender

Invenção natural

Outro dia eu me disse que Deus era invenção desses homens aqui, uma necessidade, uma necessidade de invenção.
Então inventei
Sem inventar nem mentir
Só percebi
E abri olho de dentro
Pra não mais mentir pra mim
Nem me perder de mim

Espelho

Mãe, me ensina a ver o que é de verdade?
Mãe, tem tanto homem por aí
Mãe, tem tanta gente por aí
Mãe, não me deixa ser só comida não
Mãe, me dá a mão e me ajuda a não me perder nesse tanto de gente desse mundo gigante
É gente demais, mãe
E eu sou tão sozinha
Mãe, não me deixa não

Força rosa

Nessa noite senti saudades de amizade
Ouvi dizer que trajetoiria a força
Então a força cutuca aqui
Pedindo atenção
Uma solidez de força solidão
Aquela que me deixa no silêncio da madrugada
Pesando cabeça, fome e carências
Mas atentando firme solidão
Há pulsão
Há choro de rosa
E quem limpa choro de rosa?
Ela é doce
Ela é quatzo rosa
Ela é intuição
Ela é toda força
Ô rosa, que alegria te conduzir
Alegria te dizer que não está sozinha
Alegria te fazer receber
Alegria te ver
Só te ver segurar
Segura firme saco d'água com pedras
E chora
Balança água
E limpa água de dentro do corpo
Te vendei com rosas, Rosa
Pra fechar a tua visão
E abrir tuas lágrimas


domingo, 14 de abril de 2013

Espelho

Isso que de mim escondo
É toda minha mentira
Isso que de mim tudo mostro
É toda outra mentira

À verdade com passos lentos
Passos também mentirosos
Ou olho que só julga

Eu sombria

Falo com você
Amo te ouvir
Olho num espelho
Vejo um sorriso
Vejo olhos que brilham
Mas só vejo vaidade
Toda entupida de orgulho
Querendo ser amada
Me escondendo
Chega de fugir de mim

Quando sair de você
Meu corpo verá flor
E em mim a força
Para então unir 
Sem a fraqueza de me apoiar
E a necessidade de me amar

Lava limpa leva reza traz flui inunda enxarca clareia desliza flutua entrega
Vai água, vai
E nada no nada

Alice vindo

ali se nasce 
ali se vive
ali se é
ali se ama
alice
cadê alice?

Flor flor flor

Aqui é bonito.
Respira a beleza do interior.
É beleza de natureza.
E como antes não via em toda minha pequeneza...

Alguém cantando longe daqui
Alguém cantando ao longe
Longe
Alguém cantando muito
Alguém cantando bem
Alguém cantando é bom de se ouvir
Alguém cantando alguma canção
A voz de alguém que ama nessa imensidão
A voz de alguém que canta
A voz de um certo alguém
Que canta como quer pra ninguém
A voz de alguém quando vem do coração 
De quem mantem  toda a pureza da natureza 
Onde não há pecado nem perdão

Meus olhos aqui brilham
Aguados
Minha boca transborda um sorrisos 
É de beleza tida essa natureza
Encontrei flor naquele chão
É flor recheada
É flor pintada de rosa em branco
E miolo laranja bom de carícia
Voo com essa flor pela estrada

Era num restaurante da serra da paulista 
Cheio de flores, de águas, de comida boa
E família
Então soltei minha voz pras flores
Cantei o que nem sei
Cantei pra poder falar com a natureza
Pra sentir cheiro de flor com algum som

Teto de galhos num pequeno quiosque
Sentei nos bancos de madeira
Acariciando flor e só cantando

Há passos, senti as outras tantas flores
Ô flores, quanta beleza!
Brilho de tecido puro
Riqueza que desabrocha
Molhei nariz ao tentar engolir cheiros

Aquela outra flor tem cheiro de amora
E é como fios de cabelos amoras
Me acariciou até os cílios

Sem pés descalços 
É como se grama não existisse
E é grama fofa cheia d'água
Terra que invade por entre os dedos

Sem hesitar, 
Muda de orquídea criou voz na ânsia de me chamar
Me chamou pra tê-la em casa
Pra mudar cheiro, cor e vida

E aquela menina
Aquela que nem nunca vi
Não podia ter outro nome
Se não Flor

Quero ver o seu amor plantar flor de amor na minha dor

sábado, 13 de abril de 2013

Moça de graça

Essa moça do par de poltronas ao lado fez um espetáculo e nem sabe. 
Agora está iluminada lendo um livrinho. 
Mas há minutos ela mergulhou na diversão de criança.

Colocava celular na cara,
os olhos arregalados para cima
e a boca num ovo
E ria, ria, ria
O companheiro ria.
Ela ria, ria, ria.

Ô moça,
mostra pro resto desse ônibus
como é bonito ter riso,
ter criança
e ter brincadeira
em gente grande.

Bonita moça,
muito bonita sua diversão, moça.
Até ri daqui.

Mãe

Mãe, deixa eu te contar.
Eu doo de ansiedade, mãe.
Mãe, eu sou pequena demais.
Deixa eu te pedir, mãe.
Finge procurar piolho pra fazer cafuné.
Ou finge limpar ouvido pra carinho teu.
Eu sinto saudades, mãe.
Mãe, vou mexer no meu cabelo
pra poder dormir.
E quando parar,
imbuída no sono,
vou fingir mexer sua mão
pra acordar uma ilusão
que me faça cafuné.

Seu amor foi meu

Mentindo pra poesia
Digo que serão últimos
Esses versos sobre você.

Homem que soube cantar dentro de mim
Numa penetração de violão em juras de amor dado
outra, outra e outra vez.

Bicho lunar

Nos vimos por um vidro
e já éramos conectados antes que meus olhos te abraçassem.
Desisti da interação por um poema mais a um
Já que tanto te escrevi e agora de ti nada vi.
Qualquer ponta do meu corpo que te toca
é porta aberta pra esses corpos que tanto gostam de se sentirem.
Ouvi suas respirações pelas minhas salivas.
Desde nossos pés que se beijavam num carinho sutil.
Meu rosto de lado sorriu
enquanto seus braços me envolviam num carinho
que nem você deve saber ter.
É ternura teu abraço que de tão verdadeiro só passa
e não anseia gozar de fingimento pseudo-amoroso.
Seus gestos são nuvens passageiras num céu misterioso.
Seria você lua que some e vem.
É lunar esse bicho que tem suor bonito de beber por entre as clavículas.

domingo, 7 de abril de 2013

Nosso fingir

Venha me dizer o que é a verdade
Venha me dizer de verdade
Venha me tirar desse julgamento

E é mais e mais mentira
São palavras, são expressões, são gestos
Que anseiam nesse contorno exagerado
Esse contorno que diz ser poesia
Mas de poesia, só tem um fundo de vida por respirar

Eu me afogo na preguiça mas canso desse todo fingimento

Haverá um dia a resposta à utopia
Essa que me guia
Da verdade brincando de ser exposta
Da vida esticando aos todos olhos o que é realmente vivo