sábado, 21 de dezembro de 2013

ainda cheia de espinhos vou no caminhar
ainda apertada em falta de amor exclusivo
ainda aqui rodeando os orgulhos de mim
ainda sem saber dizer amor maduro


O Palhaço

eis que o absurdo do à nossa volta é expandido em arte
eis que toda vida é matéria de reinvenção
eis que o fundo belo que cabe em ser aparece
mesmo fundo belo de meu pai e de meu amor
eis que pureza encontra estrada de terra a percorrer
eis que no rosto aguado salgado cabe riso sincero

"O gato bebe leite, o rato come queijo, eu sou palhaço."
E como posso continuar sendo ainda o que não sei de mim?

atraversar

Era pico de hora na sexta-feira da Paulista. Rumo brinco de pedra de capim dourado com pena e pedra da lua, rumo banco, encontro três. O andar se faz acompanhado, o abraço colore o corpo e vou sendo adentrada de quilos que pesem em (de)cisão.
Paro no meio.
Fico entre os que vem e os que vão.
Aqui.
Olho bando que dança o padronizado passo nas faixas brancas coladas em chão de cinzas.
Bando alvoroço pro almoço.
Olho bando. Sou bando.
Sou a menina ainda assim aqui humana atravessando. Ando.
Fico sendo a impermanência. Fico sendo o ir e vir. Fico sendo o caminhar.
E onde só andam, paro.

Hanami

caberia em ar ser arte
caberia em dança existir de mortos
caberia em vida com trato de amor 
assinado pelo eterno efêmero
Só não deixe-a esquecer que o que leva ar(te) não se vê.
que futuros amantes possam se ter em amor assim chamados amantes trazendo no fundo de si toda a entrega de traição sendo assim só em dois sem se (dis)trair.

traição - do latim traditione, entrega.
é como se semente se mentisse ao se tomar como início
mentira mortal seria fugir de dor.
é onde há própria dor, 
que brotará o jogo da verdade
em amor.
Quando a poesia deixa de ser de um poeta e passa a ser do encontro.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Aí foi

Haveria o dia em que seu cheiro não  me causasse o mesmo, o dia em que um pertence seu não fosse bem-vindo, um dia em que te veria tão distante que não mais te sentiria todo verdade e beleza, e assim te sentiria como os que mais de longe te conhecem, os que só te veem, te veria só avoado por aí. Te veria sem encanto mesmo que em canto. E mesmo te vendo em mente, carregada de sua aparência, de sua energia por vezes em mim, não te amaria. Mesmo te vendo em mente, em fundo meu não mais quereria o seu. Esse dia hoje.
Penso em você,
sorrio por dentro.

Vem

Vem se colocar em mim
me contaminando do seu ser sensível,
se escorrendo no meu entre,
me abrindo num fundo de puro intocado,
de amor de (c)alma.
até que se deixe ser vir

Fundo fogo meu

O fundo do olho que me olha
é olho meu em olho de cavalo
é olho de cavalo se erguendo
é cavalo e força emergindo.
Meu coração é túnel.
Côncavo preto fundo.
Túnel leva a fogo.
Me visto do meu fogo antigo.
Aqui em coração-túnel-fogo,
mora toda força do meu ser.
Oro do fundo desse fogo,
com vela aquecendo peito.
Então venha toda minha verdade,
se faça canto meu clamor.

Seu fogo vai queimar essa vaidade.
Seu fogo vai queimar todo orgulho.
Seu fogo vai trazer do fundo teu
o amor.


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Tropeçada

O distraído diz-se traído por si próprio.
O distraído ao tropeçar, com a cara na raiz,
vê jorro de claridade doída em tropeço.
Peço que raiz se enraíze no de trás e volte atrás.
Onde tropeço balance mas não rompa.
Onde o iminente saia da mente e vá (an)dar.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

volteio

cortei cabelo
chorei sofri
andei descalça pelas ruas
descuidei do meu sexual
faltei com amor de mim pra mim
acontece que volteio
acontece que volteio
acontece que volteio
devo estar no ano passado

Suspiro

Deixemos que o vento nos guie.
Tentemos fechar os olhos do apego
e clarear o presente.

Sol tar

Já escrevi uns tantos versos só hoje pensando em você,
agora pesarei a mão na leveza
pra tentar sintonizar com o que é você.
Não te quero longe não.
Lembrar sua presença é sorrir por dentro,
seu existir exala luz, exala alegria,
exala solar.
Seu ser sensível é todo caminhar.
Seria muito te querer ao menos em amizade?
Uma vez que provem seu agridoce,
no perto é que te terão o querer.
Quando consigo fechar os olhos pro meu escuro,
pra minha culpa e pro meu lixar, sou toda gratidão.
E mesmo se longe ficar,
tomarei Sol como se te tomasse.
E a (fr)agilidade do ser humano?
É preciso saber ir.

Outra

Esse dia tão aberto, tão claro,
eu hoje tão escura, tão impura.
Já sou outra pra você,
já sou outra pra mim.
Queria voltar, te ver,
te ter em mar.

Por que tanta tristeza?

Ou será isso a próxima justificativa pro sofrer me pegar?

(lagri)mar

Fica comigo, poesia.
Me sinto fraca,
me sinto exagerada,
me sinto imatura,
me sinto só.
Poesia, me aceite assim,
mesmo inferior.
Poesia pra nem ser lida.
Poesia pra só ser transbordada,
como se fossem minhas lágrimas.
Quero o mar.
Meu consolo é o lagrimar.
Queria ser (ca)paz de (esque)ser.

Desconexa

Olho ao céu tentando ver o azul limpo em mim,
tentando recordar o Sol daqui,
tentando sair dessa mente que me aprisiona.
Por que tão cara a liberdade?
Meus pensamentos estão consumidos pelo inferior.
Peço força.
Peço amarelo pra aprender amor.

Só fria

Me sinto fraca, frágil, menina.
Menina de alma velha.
E talvez venha daí tamanha fraqueza, não sei.
Preciso sair da vitimização e da culpa,
mas permita-me chorar um pouco, está engasgado aqui.


(Es)corri

Posso ainda tentar sugar o líquido que deixamos escorrer pelos dedos?
Posso deixar secar em mim aquele sangue teu que lavei?
Eu só não quero mais (es)correr.

Agridoce

Ainda sou aquela apegada afogada no querer mais uma vez olhos que foram.
Querer corpo e barba exacerbada.
Querer seu ouvir, seu questionar.
Sua alma doce,
nosso ser agridoce.

Mimar você

Poderia cantar uma música pra semana passada?
Cantaria aquela mesma que você citou,
aquela querendo saber como ia minha vida.
Então o tempo afastou nós dois,
deixando tanta vida pra depois.
Ou nossa tanta vida foi no antes,
foi em praia, parque e casarão.

Vêla

No metrô, olhei pra essa senhora.
Nos sorrimos.
E no fundo aquoso de seus olhos, quis ser ela.
Na maciez de suas rugas, quis sua maturidade.
Quis velha assim estar um pouco mais lado a lado do lidar com vida.
Ali foi ela mais uma vez
deixando carência e orgulho
destruí-la.

Iminente ainda

Dos teus olhos veio luz.
Tua alegria me dizia vida.
Não te quero longe, nem sei mais poesia.
Sei que tua luz me fez ver todo meu escuro,
tua luz arrebentou minha ilusão.
Me vejo ainda encoberta de tanta vida sem saber viver.
Estou pisando nos destroços, nos lixos de mim, quando só falta amor.
Não soube nem aceitar tua luz, acalmar meu espírito e esperar seu vir.
A pressa toma conta de mim,
como se precisasse amanhã realizar o que talvez nunca tenha conseguido. União.
Volteio a meu passado,
ainda sou apenas a iminência.
Me desespera te ouvir noutro tom, te ver outra cor.
Ainda quero sua alegria, seu caminhar.
Ainda não sei viver tantas vidas, ainda não sei homens.
Homens, não te sei. Não te sei, relação.
O que há entre mim e homens?
Que puxo tanto, que o canal abro tanto e não sei canalizar?
Quando tudo o que é preciso saber é apenas ser.
Existir assim por inteira só. Calar a carência.

sábado, 9 de novembro de 2013

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

hoje

Hoje o mistério do o que sou? traz riso e lagrimar sutil.
Deve ser começar a ver o que sou.
Deve ser começar a te sentir, Deus.

É como se estivesse me voltando à infância.
Sou só e isso basta.
Colo-me à minha mãe,
confio,
como se dali,
o coração vibrante aberto.

Devo estar me voltando a mim.
Devo estar me voltando a Deus.
Devo estar me preparando pra morrer.
Devo estar me preparando pra despreparar e só presentar.

Um isso de domingo, um abrir de peito, um sair de voz, um lagrimar de nada, guardei os olhos dos outros e no fundo de mim se aguaram. Só resta um transbordar de estar.
Meus grandes olhos de menina talvez te puxem,
mas meu coração descabido não saberá retê-lo.
percebeu a velocidade do passo noutro tom
o tempo do pensamento quase azul
parecia até ser (ca)paz de (c)alma

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

dança

cabelo cresceu
libertinagem desceu
casa floresceu
só não muda
minha (mu)dança

impuro

há de existir algum puro?
Algum verdade,
algum essência?
Puro.
Há puro?
Há pura luz?
Há um higienizado?
Há um branco?
Há?
Aqui, nos humanos, há?

Ou poderia eu enxergar o puro dos seres,
o puro de mim?
Sorrio e sinto um puro.
Mas já logo desconfio
E nesse nosso ser,
qual razão de ser?
Há razão de ser?
Ou apenas levado ser?
Quem leva ser?
como um e outro em rede
comum
para ser
commundo

sábado, 19 de outubro de 2013

bonito

é que nos acho bonito. nosso nós faz-se bonito. vejo assim bonito nosso encontro. nossos olhos num cruzar. nossas pernas em outro. vi lá bonito sua presença em cena, suas sutileza em corpo em movimento, sua carícia no ar, seu gosto pela vida, seu sereno estar. achei bonito seu amarrar de cadarços em escada. bonito ainda mais primeiro abraço que senti bonito o já te conhecer. bonito te achei de espectador com coluna ereta e poucos movimentos quando ainda ali, sutis. bonito teu dizer de deixar sol me guiar. bonito ainda nosso sentar em noir como se fossemos apenas colegas espectadores a discutir vida e arte. quando fez-se ainda mais bonito nosso aventurar. bonito seu ir. bonito até meu medo. bonito nossas mãos unidas guiadas pela aventura do desconhecido. bonito adentrar em casa abandonada. bonito beijo materializando o pulsar de meu coração bombeado. bonita a mistura de tensão e tesão ali. bonitos sustos e medos. dança em folhas foi traçando mais bonito. bonito o presente chuva que nos encharcou. bonito nosso canto, nosso berro, nosso passo, nossa dança. bonito eu em seu colo encantando cartola. bonito eu aqui relembrando nosso ser bonito. bonito o transparente em nossas roupas brancas molhadas de benção. bonito nosso sorrir. bonito teus olhos. bonito o violão em manhã de sol. bonito o fotografar em sua pele, seus membros, nosso enlace, nossa trace. bonito nosso criança. bonito nossos banhos. toda mescla de bonito nos guiando. bonito ainda o divino cantando pra nós em parque. nosso bonito ler peças. bonito ainda nosso olhar a pássaros que tem como chão folhas de árvores. bonito sol. bonito sóis. bonito incessante fotografar. bonito sua bichice toda. ai de bonito você é. bonito choriso meu ao lampejar acordar divino. bonito ouvir em seus olhos. bonito cochilar seu. é de bonito todo nosso abraço todo nosso beijo. tão bonito que nem sei. tão bonito que presente vem com você. bonito nanairar, comer, babar, sexyar. bonito guiar de aventura que te coloca entre mim abaixo de câmeras. nossa cidade ainda tão bonito. bonito te sinto a meu lado e coração faz-se em tom bonito. bonito te sinto presente. bonito sinto presente em ti. bonito mais bonito é praia em madrugada. é maré gozada. bonito é esse nosso a andar em areia de praia. bonito mais é nosso dançar em beira de mar. bonito até nosso tentar capoeirar. bonito nosso cantar. bonito nosso olhar, olhar, olhar. bonito nosso despudor. nosso xingar. bonito esse não medo da chatice. bonito nosso trato em chatice. bonito esse à vontade. bonito esse poder dizer o que for. ah que bonito teu massagear em manhã de ônibus. nosso esgotado cansar é até bonito. bonito nosso desnudar. bonito estarmos nus em quaisquer instâncias. bonito nosso dizer, dizer, dizer. bonito o compreender e o ainda querer. bonito nosso sangue assim transbordado. bonito nosso querer o todo. bonito quando te ligo e fico. bonito é mesmo o dom de achar bonito. ou só de te achar. assim, bonito.

bruta flor do querer

insatisfação é bicho que come essa nossa sociedade. esses nossos humanos. essa nossa existência. come sem mastigar. engole digerindo em cenário de gastrite. insatisfação que nos faz refém. refém da droga. refém do fumo. refém do pó. refém do álcool. refém da gula. refém do sexo. refém da sedução. refém da vaidade. refém da traição. refém da mentira. refém até do sorrisinho bonito. refém do sofrimento. refém da paixão - não do amor. seria preciso satisfação para ser refém do amor. mas chega hora que vida implora fim da insatisfação. que fundo vida. que além vida. vida que de tão vida tem morte como apenas coisa de vida. e vida em tal implorar te dá tranco. vê aí o tranco. olha tranco da vida. e se dá tranco. só compactuando com tranco de vida é que insatisfação pode passar fome. e tranco te traz presente fé. fé te leva. é quando o fazer se faz. quando o acreditar na partilha ganha água pra se reproduzir. água que é fé. e passa a acreditar na partilha de suas meras ideias. seus meros ideais. suas meras criações. suas meras fantasias. suas meras danças. seus meros teatros. suas meras músicas. seus meros desenhos. suas meras fotografias. seus meros filmes. suas meras poesias. que meros assim, em fé materializam macro. em macro chamo o outro. pra que possamos esfomear insatisfação e partilhar pulsação.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

transpiro

Quem foi que nos mergulhou em nós?
E se em mergulho nus afundam
que em água aprendamos
a mar
a liberdade
que amor
aspira
tanta pira
limpando
nossa ira.

Aspalavrasmecomerammastigadasedigeridasasletrasnadandonessamarédecor...
Já brincou com as letras da maré.
Já versou as gotas do que amar é.
Mas a maré nos levou a nós
ao querer amar.

Lensol

Sangue em gozo a molhar 
algum início de amor.
Se hoje não há maré
haja hoje vermelho.
Se em minhas pernas sol-tão vermelho, 
em ti fica solto um palhaço com nariz derretido.
Não sei se gozo ou se sangro
só sei que em teus olhos me chamo.




Chovê

Gotas iniciavam chuva 
enquanto conversava com (d)eus
trazendo só sol em solidão
e pra arrogância o perdão.

Em rua, falou em força divina
falou em limpeza divina
falou em emoções de Iemanjá.

Foi então que chuva fez-se 
potência de limpeza
banhando aguando desabando.

Desabou água em voz
pra lavar o que tem que limpar.

Foi então que chuva 
com ela conversou.
E resposta divina
era água
água
água.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

o mesmo
que te distrai
te guia.

Piro

Só posso ter certeza
do ar
que entra aqui.
Só pode me acalmar
o respirar.
Respiro
ao começar a pirar.
Respiro
buscando acalentar.
Respiro
buscando me salvar
do louco em mim.
Ou da verdade em mim.
Eu não sei.

Eu não sei se essas questões são loucura ou chão da verdade. Não sei. Essa questão. Essa questão incabível em palavra, essa questão ser eu. Coube. Coube nessa tinta saída de caneta cheia de valor de trabalho, uso e troca. Ser eu. Como pode? Mundo vasto. Mundo múltiplo. Mundo infinito. Mundo complexo.
E sou eu.
Querendo entender mundo ao buscar entender eu.
Me afundei aqui.
Respiro.
Volta.
EsqueSer as questões ao invés de pensá-las.

Respiro.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

passado

aqui é lugarzinho de paz. olhar esse céu daqui. muita beleza. ver o céu passar, o sol passar, escurecer, ai passam uns pássaros, cor indo, mudando, rosa, laranja, verde, azul, lilás, branco, azul, azul, preto, luz, brilho, luz, tudo isso. lendo fausto. paro, fico só olhando. que beleza. numa montanha longe, uma luz se movimentando, parece fogueira. lembro de você. te amo.

Cicatriz

É tudo, tudo, tudo
pra só restar
a (cic)atriz.
Só peço
que o desespero espere
e a espera não se desespere.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

fundo

mãe,
eu só posso confiar no seu amor
só.

e como filha minha,
me digo ainda
não dependa de ninguém
você é só
no fundo de você,
(d)eus
e só.

sábado, 14 de setembro de 2013

Obscenos

Lembra-se de nós? Você todo afogado em mentira, eu louquinha pra estourar a bolha da hipocrisia.
Então inventamos
por debaixo da escada,
por debaixo dos panos,
por debaixo tanto
que criou raiz.
Lá inventamos ser de verdade. Queria ainda ser seu porto da verdade.
Nado em nada meu
à procura do teu.
Daquele teu
que foi me dado
para degustação e só.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Al

Era uma vez uma menina.
E homens.
E ela nem sabe continuar
por não saber discernir
se amor
se karma
se dharma
Ela só precisava crescer.
Boa noite.

O que é ela?
É portal de amor?
Ou portal de traição?
É chão de confusão.
Traçando teto de poço ancestral.

-me ensina a ser eu? assim, no amor. -querida, isso você aprende com você. -te amo. -te ensinei a ser você.

Patia

e se ainda puder me ouvir
só ouça meu sentir

Registro

hoje me permitirei breguice em poesia
é dia do amor

presenteada

em telefonemas, eles, aqueles...
Eles
Aqueles
duas riquezas
aqueles que me trazem
maior riso
maior choro

Lá tamanho amor que vem não sei de onde
Vem de onde morte não existe

Lá buscamos adentrar universo
Adentrar arte
Porosear em ar(te)

Dharma

Colo e em outra instância te ouço
Num toque adentro pele
E é só seu coração
Tambor de acalanto manso
Recanto em seu interior
Supondo dharma

Ausentes

fazer até da ausência presença
hoje roubarei versos seus
já que união não nos cabe

sábado, 7 de setembro de 2013

São João da Boa Vista

Nessa terra é possível
ser sozinha
e até não se sentir só.
Acalentar raiz
e receber do céu
toda beleza.

Fotografarei no íntimo
cada surgir de estrela
cada cor efêmera de céu
cada pintura de Deus
cada longe fogueira
cada aparecer surpreso de pássaro
enquanto Fausto se faz lido.

A raiz da paz
só pode ser aqui.

Assimetria de percepção

É como se um de meus olhos estivesse lá.
No fundo.
Onde minha razão não alcança.

O outro ronda-o em confusão,
imaturo,
alcançado em pensamento incessante,
confusão,
confusão.

E com esses olhos vejo.
Pairando em desequilíbrio.
Querendo abrigo amigo.

Respiro

Quando danço,
tudo em paz.
No dançar,
nada disso importa.
Só o movimento.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Pré tensão

Artista.
Ser artista.
Querer ser artista.
Que artista sou?
Que artista serei?
Que caminho é esse?
Que profissão louca,
louca,
louca
é essa?
Onde me meti...
Coloquei o dedo na fogueira
por lembrar ser fogo.

E deixa-te calcinar.
Rumi

Cisão

É como se a vida
estivesse me tirando
de algum casulo,
alguma fase,
algum tamanho
e me obrigando
a crescer.

Me obrigando
a decidir,
a cindir,
a ser,
a ser eu.

Está se mostrando séria, muito séria.

Eu não sei se aguento. Acho que não estou aguentando. Eu preciso de alguém que verdadeiramente me conheça. Alguém pra me ajudar. Alguém pra conversar. Eu quero minha mãe. Quero alguém que me entenda. Não quero mais ser tão só assim. Nesse momento não consigo só olhar pra essa solidão que não cessa. 

Ao meu redor tudo mudou.
Mudou.
Mudo ou.
Preciso lembrar quem sou eu.
Tinha uma maçã podre na minha bolsa. E um outro ciso nascendo.


terça-feira, 3 de setembro de 2013

Calma

Eu só tenho
dez e nove
anos
agora

Me segura
ainda.

Com título

Antes que crie

calo

na voz.

Sem título

Acordar
sem cor
Só pode ser
a cor da insônia

Só o início

Não desligo.
A madrugada passou em passos curtos
Corpo caindo em tensão
Mole implorando sono
Olhos sem feixes
Cabeça sem sossego
Fecho os olhos e bichos
Bichos
E mais bichos
A infinidade de bichos que fui e sou
Lobos me puxando pela janela
Aves sobrevoando a morte
Fetos mastigando o gesto
Bichos cobrindo toda imagem daqui
Recordações da loucura criativa
A falta do amor
A saudade, a vontade
O laço firmemente amarrado em algum lugar do passado
Que talvez só eu veja
Que talvez só exista pra mim
A carência de um carinho que me nine
A recusa de amores que não sinto
Onde vou parar?
É possível parar?
Na voz doída sai um canto desconhecido
Dialeto de algum canto esquecido em mim
Tocaria violão
Comeria
Escreveria
Voltaria pra janela
Se meu corpo ao menos me deixasse levantar
Quanta desunião nesse ser

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Duas e meia

Hora silenciosa da noite.
Vozes gritam em meio a aparente monotonia.

Nós em chás e paus de chuva.

Máquina lavando roupas.

Adentre em mim, hora da noite.
E faça dessa mente algo mais onírico.
Como se toda mentira fosse profundeza.

Madrugada

Era um menino.
Menino, assim, menino.
Cheio de vida entre os amigos.
Aspirando arte.
Bem menino ele.
Ele lá pra cima, na boa.

E ela revirando a insônia.
Ela cavucando a saudade.
Ela presa num querer.
Um querer confiante mesmo ainda.
Ainda.

Mesmo que saiba daquele tempo do menino.
Tempo outro dele.
Ela não sabe se confunde destino com ilusão.
Se confunde conexão com ilusão.
Se confunde intuição com ilusão.
Se confunde paixão com ilusão.
Se confunde amor com ilusão.
Mas se for ilusão,
ela ainda ousa permanecer ali.
Poderia ser invenção toda essa relação.
Invenção dela.

Lembra quando aquele outro ele intuía um amor tão profundo por ela, uma paixão desmedida.
Ela, naquele outro tempo dela, aquele tempo de menina, ela nada respondia àquele outro ele.
Ela preocupava-se com os tantos sabores dos tantos falsos amores que passavam por ali.
Ela preocupava-se com sua falsa liberdade.
Ela em outro tempo.
Mas eis que um tempo é revirado nela.
Ela abre corpo e todo o ser a algum amor.
Entra em tempo daquele outro ele.
Entra fundo, implora que ele adentre ela no mais íntimo.
No íntimo que nem ela mesma conheça.
Mas outro ele já era de outro tempo.
E não foi nesse tempo que o íntimo se revelou.

Ela então vê todo aquele querer em ele.
Ele está em outro tempo.
Outro tempo.
De relance, ao passar de algumas brisas,
ele olha ao tempo dela,
diz conexões, diz diz diz
Diz entre tantas leviandades...
Como aquelas que ela dizia a outro ele.
Mas adentrar em tempo dela ainda é longe dele.

Então continua revirando-se em insônia.
Duas da manhã e ainda.

Como se ainda coubessem justificativas,
nada tão jogado apenas em ele.
Ela também é menina.
Nina. Como beija-flor.
Em espaços sagrados,
vão sendo revelados a ela,
revelados mistérios que nos rondam.
Escolheu arte.
E arte vem quase que estuprando-a
com um amor sem fim.
O corpo amolece.
A voz carece.
Mole estou.
Corpo como se já em sono.
Mas é insônia.

Aquele estupro artístico,
que com tanta ousadia assim coloco,
fala em morte, morte, morte.
Em natureza.
Em loucura.
Aquele estupro artístico
quer levá-la pra onde veio.
E vai levando, levando.
Ando indo ao mais antigo.
Sem voz carrego ainda essa busca.
Mexendo estruturas.
Caindo certezas.
Caindo vozes que nem em pé se faziam.

Vozes

Meu amor
Aceita o vento
Aceita o tempo
que restou
Transita na loucura
Adentre toda nua
E deixa morrer
Deixa morrer
Deixa morrer
Deixa morrer
Deixar morrer a dor
Deixa morrer o sofrer
Deixa morrer a ilusão
Deixa morrer a ilusão
Deixa morrer a ilusão
A ilusão se vai
A ilusão se dissipa
Ilusão se dissipa
Nessa minha morte
Hoje é morte
Hoje é morte
Hoje é morte
Daquilo tudo que você não sabe expressar
Daquilo tudo que você não tem voz pra falar
Daquilo tudo que você não sabe falar
Daquilo tudo que você não sabe
Você não sabe
Você não sabe expressar
Então
Só aceita
Aceita o tempo
Aceita o vento
Aceita o tempo
que restou
Transita na loucura
Se adentre toda nua

Calo

Entre mim e as palavras, abismo
Distância
Aquela mesma entre mim e amor
Abismo
Aquele mesmo entre mim e os homens
Distância
Aquela mesma entre mim e mim
Abismo

Hoje rezarei ao Deus da expressão
Faz dessa voz uma voz
Faz de mim ser compreendido

domingo, 1 de setembro de 2013

Efêmero e liberto

E aquilo que pensa ter,
logo perde.

Mesmo eu não seja,
esse mundo é efêmero e liberto.

Ilusão

Prendi a caneta com o cabelo.
Assim, normal banal.

Cadê caneta?
Levanta caderno, levanta livro
Afoba, afoba, cadê?
Anseia, treme.
Caneta!
Que porra!
Caneta!

Caneta no cabelo
É, é isso.
Afoba louca fora
Busca incessante fora
Quando tá aqui
Nela mesma
Só aqui
Só.
Já não me encaixo nem no desencaixe.

Maré

Estou em lugar nenhum.
Lugar algum
num manancial de solidão
que agora se encontra
como se rio encontrasse mar.
Importa agora apenas
respeitar a maré.
Sem que qualquer barco medíocre da humanidade me salve.
Sem que qualquer barco obscuro do meu pequeno eu finja me salvar.
Barco obscuro que finge,
mascara um risinho
ou ainda me coloca sofredora.
Só será respeitada a maré.
A maré de onde vim,
de todo ancestral,
que me enraíze
para então
libertar,
libertar,
libertar.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Insisto

Quanta insistência e demência
Num instante me envergonha
Noutro alivia

Insisto insisto insisto

sinto o gosto
preciso engolir
já não basta a degustação


Obstinação

A vontade é gritar
Te sacudir
Enfiar meu amor no seu
Quem me amarrou assim?
Será mesmo só eu?
Ando sendo filha da obstinação.

Visualizada

Queria invadir seu silêncio
Colocar saudades suas nele
E transformá-lo em um aviso de encontro

Enquanto isso
Nem sei se rezo ou se te esqueço

domingo, 25 de agosto de 2013

Fusão

E se ainda for solidão,
que se tente as altas temperaturas do fogo
para fusão.
Que em água
nada de tão sólido ainda reste.
Que em água
nade em vão sólido que ainda resta.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

peço

e se ainda couber fé,
fé.

se eu ainda aguentar a verdade,
a verdade.

se existir só aqui,
ficar só aqui.
Às vezes parece que não vai acabar.
Que a angústia só consegue no máximo máscaras pra dissimulá-a.

Onde peço proteção?

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sopro de sangue

Como líquido de ode
Sangue escorre
Pelas minhas pernas faz pintura
Vermelho brincando de ser veia pintada

Brotando desse nosso entre
Todo gozo que for pétala
Todo respiro teu sendo acalento
Engulo esse teu ar
Lacrimejando tua beleza

Só flor

Se pudesse universo respirar só íntimo e só beleza
Faria de nós sós
Para então adentrarmos flor
Flor 
só 
flor

Desaniversário

Idade passa
Eu fica.
Eu fica só com flor.
Fazendo então brotar amor.
É no miolo que toco o pólen do meu ser
Pólen essência solidão
Nessa solidão onde mora amor
Só dessa solidão brota amor.
Fico só
Só e flor
Adentro flor e descubro amor
Em mim e só
É só que vou
Num fundo só
Só tão só
Que de tão só

Choro e rio num só tempo
Esse tempo de me amar
Para então verdadeirar qualquer instante
Qualquer
É do fundo daqui
Algum verdadeirar

Então hoje solto
Hoje solto-os
Hoje não escrevei a ele
Hoje não quererei ele
Hoje sei só do só
E da flor

Como se pudéssemos marcar no íntimo o fim do velho
Aquele mesmo me adentra
Como se cravando no íntimo o novo
O virar do ciclo
Todo beleza e todo poesia
Cabelos de sopro e melodia
Ele vem de novo

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Desequilibra

E faz desse chão e dessa terra
os mesmos galhos daquela árvore 
que o pássaro branco se apóia.
Vento bate e desequilíbrio vem.

Pássaro lembra que vive,
então esse desequilíbrio curte, 
levanta asas, 
volta asas, 
segura-se.

Pássaro lembra que vive,
então desse desequilíbrio,
voa.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Janelas da alma

É nesse silêncio que aprendo a ver
Que faço desses olhos todo corpo
Que faço desse corpo todo olhos
Por eles passam
Passam, só passam
Deixo entrar
E já entro no mundo

Aqui

Quanto mais diverso vejo
Mais solidão percebo

domingo, 11 de agosto de 2013

Exo

Elas, mulheres trabalhadoras da Santa Cecília,
uma vende frutas, outra, meias.
Elas, as duas,queriam ter estudado.
Estudado.
No EJA, a mulher volta a estudar porque morreu marido.
Estudar.
É só isso,
só nisso a complexidade dos seres me olha.
Só.
Olha fundo nos olhos.

Transborda

Contorna as costas alguma sensibilidade do que é o mundo.
Desses tantos estares,
tantos seres que são um,
entre si tão, tão diversos.
E complexo.
Exo.
Exo.
Escrevo por não mais cabem em mim.
Chega um instante em que não cabe só em mim.
Precisa sair.
É o instante em que a lágrima sai.
É o instante em que preciso escrever.
Pra então respirar com a poesia que sai,
quando sai de mim por tanto ter entrado.
Então devolvo essa intensidade pro mundo.
O ser humano.

entre-vista-r

Agonia numa vista
querendo entrar em vista de alguém.
Até querer entrar
em tantos ou em poucos.
Visto outra vista
mas ainda não é esta vista
que quer entrar em minha boca.
Receio essa.
Corro pra outra
e outra
e outra.
E abre pra entrar e ser entrada.
Até vicia querer entrar nas vistas.
Perfis, valores, amores.
Querem até morrer igual.
Mas nada como tal.
É diverso, diverso, diverso.
Ser humano, ô bicho maluco.
Sendo por aí o que a existência tem de louco.
O que a mortevida tem de

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Onde

Engole o tempo
Feito saliva seca

Ou ele me engole

Montanha russa

Tropeço no vai e vem

Chega de vir, dor
Tenta vir, amor
Tenta.


Colhe
Exaspera
Chora

Acalenta o ritmo
Obedece o lento
Desafoga o medo
Queima a paixão
Encara o real
Esqueça-os
Firme-se
Força.

Durma
Só durma
Talvez sonhe
Durma
Esquece a dor

Esquece a descrença
E se solte em só
Em só




Indo

vou calar os pensamentos
e só deixar estar
vou sentir a voz que me guia
colorir no tom desse amor

Penas na cabeça

Nhamnhu
eu to aqui
vim te entregar
o verde
(paz)sou!

8

Tentou-se unir o X.
Desenhou-se o infinito.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Cara valente

Hoje eu rio
Rio depois de voltar do rio
Rio ao ouvir cara valente
Rio dessa sua cara
De tão bonita que é
Esse sorrisão aí que muitas vezes se esconde
Esses olhos aí que muitas vezes caem
Deixa de ser bonito!
Ô bicho bonito!
Fico rindo dessa minha paixãozinha
Olhos brilham ao lembrar dele dormindo
Chega de ser bonito, bicho, chega!
Onde vejo tanta beleza?
É no mistério dele?
É no negar dele?
É no rejeitar dele?
É na liberdade dele?
Deve ser.
É na liberdade dele.
Ele não é de nada.

Horação

Às vezes a vontade é dormir e só.
Esquecer tudo.
Descansar.
Ficar em paz.

Barriga dói.
Estômago,
em baixo do estômago
e mais abaixo ainda,
como cólica.
Parece bem fundo.
Às vezes movimentos, movimentos.

É, tá só em mim.
Eusimeusimeusimeu preciso ser forte.
Eu pedi.
Eu pedi ao Universo o Universo,
a luz,
a profundidade da existência,
Mas, calma.
Mais calma.

Quanta arrogância nesse coração,
mesquinha que sou.
auptelinzzvumtuniotausiitaustasfundtaustaustaustausd.
Cada pedaço desse meu lado de negação
vai doendo ao se afrouxar bem devagar.
Vai doendo mas é pra aceitar.
O passado lá ficou.
Encara.
É horação,
hora de ação.

Desconfio desse choro,
desconfio dessa dor.
Desconfio.
Alinho a coluna pra pelo menos isso me firmar.
Como menos.
Rejeito carne.
E o sexo ainda tormenta.
Ainda em sonho
sua mensagem vem negando sua presença
ou aliviando saudade do seu corpo, do seu cheiro, do seu.
É preciso me deixar você ser seu.
Ainda.

Um vômito que aponta,
um cagar que finalmente vai.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Mistério

Plantei o corpo na capoeira só de ouvir
Correu o peito em gelo
Coração abre abre abre
E pede mestre

Mistérios
Mistérios
Mistérios

Nossos olhos abrindo outras vidas
Nossa união se faz em coração
Cristal radiante pontiagudo faz do nosso coração o mesmo
Lágrimas aguam enquanto meu rosto muda muda muda
Nesse corpo recebo o chamado
Escrevo assim para então me ouvir
E me deixar ir sem medo
Sem medo
Sem medo
Aceitar
Vai
Vai
Vai

Dali do djembe e violão
Cheia de lágrimas
Voltei os olhos nelas
E dali só via luz e sombra
Em luz é sol, é flor, é mãe
E peito que abre
E mistério que cobre

terça-feira, 23 de julho de 2013

União

Em amizade harmonia
O leve toque, o leve sopro
Mas no amor
Escolheram a coragem pra fincar
E cada amante fazendo-se fincado em si mesmo
Ao amar o outro
Pedem assim a força pra fincar
E navegar nas próprias profundezas
Ao amar o outro

Apenas quando eu  me ver
É que poderei me fincar
Agora respiro e só fico
A espera de alguém como portal
Para me atravessar

Se é disso que sairá outra vida
Só é preciso transbordar em própria vida

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Rasgo

Pegarei um rasgo na próxima brisa que passar por mim
Buscarei incessantemente um átomo indivisível pra ser rasgo
Rasgo de ti em mim
Saber pisar no real e rasgar esse um que inventei entre nós
Nesses meus nós ilusórios onde você vivia sem querer
Te amarrei na memória mas agora peço rasgo
Me rasgarei e tomarei enfim a desilusão

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ainda lembro

Ainda lembro do seu toque
Ainda lembro do seu cheiro
Ainda lembro dos seus pés
Ainda lembro do seu arrogar
Ainda lembro do seu verdaderar
Ainda lembro do seu pensar
Ainda lembro do seu loucar
Ainda lembro do seu palhacear
Ainda lembro do seu maravilhar
Ainda lembro do seu transar
Ainda lembro do seu gozar
Ainda lembro do seu banhar
Ainda lembro do seu beijar
Ainda lembro do seu olhar
Ainda lembro do seu chegar
Que nunca mais chegou

Filha do Sol

Essa vida que escolhi viver
Essa vida que escolheram pra mim
O Sol escolheu pra mim
Logo logo
A passinho por passinho
Curtos e em velocidade mil
Vou me reconciliando com Sol
E aceitando o que Sol me deu
Vou deixando de querer ser maior que Sol
Vai, ego,
doa, mas saia

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Olho quebrado

Ser cantada e ser dançada
E me livrar de toda dor

Me deixa ser da luz
Me livra desse ego
Me deixa ser da luz

Ruptura

Essa aqui
Que veio em corpo de menina mulher
Ainda não sabe aceitar o Sol
Aceito
Aceito
Aceito
Quero aceitar
Já não faz sentido aquele velho modo
Aquele velho medo
Peço que minhas mãos sejam entregues
Essa gente que aqui vive, dança e canta
E ela que o que mais queria era dançar e cantar
Ainda está tentando ser dançada e cantada
Sem vestir aquele velho modo
Aquele velho medo
Silencio se não vale mais aquele velho modo
Aquele velho medo
Aquela velha máscara

domingo, 14 de julho de 2013

Perdoei

Uma porta se abriu
Sou filha do Sol

Aceito esse lugar
Ilumina com o cantar

Ametista fincada no peito
Traz paz
Mágoa jaz

sábado, 13 de julho de 2013

Caminho

E só há um lugar
Esse instante eterno
Essa eternidade do instante
Então só vive
E ri se transbordar assim

Novaso

Anda, planta
Cria terra, cria raiz
Cheira arruda, cheira alecrim
Cheira o simples e planta enfim

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Amar

Te amo
se me amo.
Se te amo
e não me amo,
não amo.

O que tenho

Olho pro teto dessa sala.
Pra onde tanto já olhei.
O que ainda mais já me olhou.
Eu e o teto.

Começo a dançar então.

É só o que eu tenho
Meu corpo

A alma, 
o espírito, 
Deus em mim
não tenho, 
sou.

O que tenho é só o corpo.

terça-feira, 9 de julho de 2013

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Monólogo para espelho

Melhor encarar como dom
Essa brincadeira profunda
De conversar com o espelho
Rir e chorar com meus olhos
Ser dura e firme comigo
Ser leve e carinhosa comigo
Dizer palavras de levante
Sorrir
Se ver um tanto quanto maluca
Se perguntar de quem se quer chamar a atenção
No fundo se gostar
Se acalentar
Relembrar do colo que mora apenas no meu íntimo
E correr ao relembrar:
Não se perder no espelho


Luto II

Estou naquele tempo de simular um assassinato,
estar de luto
e te matar em mim.
Um tempo de buscar entender
que posso te matar em mim
sem me matar.
Frio você já está,
só faltam as flores e o caixão
da minha desilusão.

Barulho interminável

Nossos passados, outros,
Nossas vidas, outras,
Nossa existência, a mesma.
Mas o que nos ronda em pensamento,
será então tão outros?
Nossas máscaras silenciosas,
Nossa mente inquieta,
O que pensamos?
Será mesmo possível haver tanta distância em pensamentos?
Como não atingimos o casamento entre existir e pensar?
Pensarmos em harmonia utópica,
ou em um tópico palpável
de união do ser?

domingo, 7 de julho de 2013

Sala preta

Algum herói em nós nos chama.
Às vezes difícil de escutar
já que tanta tensão só leva à pretensão.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Olhos enraizados

Vinha luz do sol para tecer Olho de Deus
Nas raízes
Lar da família
Sentada em grama úmida
Som de luz como pano de fundo e de cobrir
Sol baixando
Mas luz nunca baixa
Vem estrelas
Radiam, brilham, não cessam de iluminar
Há luz
Abre-se pra luz
Aterra para transmutar
Familiariza para iluminar
E dança para desfrutar
Poesia como sangue
Na parede, as mãos dançam
Mãos de poder que tecem e dançam
Mãos de poder que evocam e ecoam

quinta-feira, 4 de julho de 2013

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Volta

Preciso me desapaixonar de você
Pra talvez te amar
Se você ainda puder me ouvir
Só pra eu dizer do meu amor


terça-feira, 2 de julho de 2013

Maina foi

Naquela mesma janela
Angústia
Precisava de flor
Veio flor
Maina flor
A casa virou flor
E mesmo saindo a flor
O cheiro fica
O cheiro fica
Cheiro de flor
Som de amor
Te deixo aqui
Te agradeço ali

Hoje tem flor naquela janela
E mesmo tão só, não sou só
O cheiro fica

Mu dança

É tempo de
mu dança.

Me viro
Como se virasse
O ano.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Sexta vela

pavio corta fogo
fogo corta ar
fogo corta alma
fogo queima dor
forte, olhar cresce 
em água vermelha
e deixa as lágrimas pra vela

Sagrada sangra

Ela necessitava desapegar-se do sofrimento
Sair da dor 
Desidentificar-se com a criança ferida
Foi pro banho
Limpar
Banho
Banho
Banho
E cai o sagrado nela
E dança
Vai, dança, você é dança
Água escorre e só dança
Deixa dissolver-se em movimento

Mãos na vagina
É sangue
Dedos vermelho sangue
E vira loba
De quatro sangra
Saúda o feminino
E se deixa sangrar
Bate pés
Gira
Quadris galopam
Sagrada sangra


Deixa

Vai, esquece de você, menina
Olha pro mundo
E deixa sua bolha

Deixa
Deixa
Dissolve
Deixa
Dissolve
Envolve
Deixa
Envolve
Deixa
Deixa


Iminência

Nessa noite não coubemos mais na mesma cama.
O que antes era para nós um travesseiro,
Um lugar,
Um corpo,
Nessa noite não coube.
Nessa noite o fio da solidão nos desuniu.

E no escuro, tentamos nos amar sem nos ver.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Para Lili

Lililinda,
O que apreendi?

Liberar as quadradices.
Antes olhar pras quadradices.

O foco,
a importância do foco.

Puxando todo seu saco, aprendi aqui a te conhecer e fui levada,
levada,
levada.
Como aquelas folhas que você soltava.
Como o canto que de você saltava.
O rio levando.
Água suja.
Sentir toda a água suja entrando pelas narinas.
Ir e me deparar com a água suja
pra poder soltar as folhas das quadradices.

Pintar com seus exames,
pintar o poste,
pintar o tempo é arte,
vida é arte,
tempo e sei lá o que,
um violãozinho azul estampando os degraus da escola,
calando agora o que abre em mim com você.
E em mim como as vestes esporradas.

O rio.
O rio.
Voltar ao rio,
enterrar o peixe.
Lembrar da nossa imposição na natureza toda.
Pra poder voltar pra natureza toda.
Acordar para a natureza toda
que vai passando pela gente
sem que a percepção
capte e resgate.

A racionalidade ainda permeia.

Então deixa qualquer coisa dentro doida.
Doida e doída num simples caminhar por aí,
permear a cidade,
dialogar,
estar,
ser agido,
ser levado,
olhar,
olhar,
olhar,
derivar.
Ouvir pelo cheiro
Ver pelos ouvidos
Onde acorda o ouvido do cego?
Aliás, esse ouvido dorme?

Então vai,
só anda,
só anda.

Na chuva que agora caminha como rio sem leito,
rio que sai do mar do céu
e deságua nessas pedras da nossa ainda imposição.

O peixe morto ainda pula,
ainda pulsa.

Marina olha
E o pensamento confunde
num celular que toca,
numa boca que toca.

Chega como luva
sua palavra de intenção
do primeiro dia.
Luva em minha busca.
Você em pézinha
perto da barra,
apoiada na barra
falando em cura,
com um vestidão,
e um sorrisinho.
Beth: cura?
Sorrisinho.
É, cura.
Sorrisinho,
sorrisinho,
sorrisinho.

Cala a memória pra ouvir alguma história de bicho.

E faço pra quem?
Pra quem me acompanha?
Pra quem tá aí na rua?
Pra que só passa?
É teatro, é performance?
Tem dramaturgia?
Tem regurgitofagia?
Tem algum som?
Tem algum tom?
Só não tem algum chão.
Mas foco.
Mais foco.
Foco na questão.
Qual é a pergunta?
O que move?
Um move.
É vida?
É arte?
É vidarte.
Vão pichando por aí
ou vão grafitando por aí.
Veem até aqui e não deixo de perceber ali.

Lá onde nada tem.
Lá,
aqui,
aqui onde nada tem.

O que existe é só existir.
Apenas.
E tudo vai passando,
só passando.

Mas algo puxa os olhos pro grafite.
E lembro que há dor.

Bolha

Bola de ferro na garganta
que arranha, arranha, arranha.
Desce pro peito
e o que há de mais leve são lágrimas.
É tanto orgulho,
mas tanto.

Mãe, me ensina a amar?
Onde mora o amor mais puro e verdadeiro?
Me leve até lá.
Mãe, eu sei que vai doer,
mas rasga esse eu de mim,
destroça meu ego,
me faz vomitar essa bola de ferro.

O que aconteceu?
É o que ouço desses olhos no metrô.
Morreu alguém?
Perdeu o emprego?
Perdeu um amor?
Não,
só vi que nunca saí de mim,
só vi que estou cercada de mim
e sem sair do apego,
afogada no medo.

Mãe, me ajuda.
Me faz aceitar ajuda.
Ou eu buscarei na plateia todos esses ouvidos,
toda essa atenção,
todo esse amor?
Ou eu jogarei em um todo o peso de me cercar,
me amar,
me ouvir?

Mãe, me ensina a dar.
Mas dar de verdade.
Mãe, me ensina a ser mãe.
Mãe, me ensina a ter um filho.

domingo, 23 de junho de 2013

Compl

Isso que ando chamando de solidão
Deve chamar-se necessidade do outro
Deve chamar-se necessidade de ser amada
Deve chamar-se
Não soube completar
Peço tempo pra investigar

Ela ainda não deve ter compreendido
Que tudo está nela
Dê um tempo a ela
Às vezes o sabor do engano é doce
Às vezes o ver o engano é amargo
Às vezes o sair do engano é
Não soube completar
Peço tempo pra vivenciar

Boa noite

Peço companhia da música
Por medo de encarar a solidão
Dormirei sozinha
Mais um dia
Outra noite entrará em mim

É play em alguma voz divina
Que não me deixe só
Pra saber dormir em paz
Pra poder colher a paz

Quando será hora de encarar o medo?
Esse que chega em meu queixo
Como água batendo quando pés não alcançam
Quando essa água suja subirá aos meus olhos?
Tenho hoje medo de sair do medo.
Por não saber onde fico sem ter medo.

Hoje testarei o silêncio para sono
Sem vozes, sem músicas, apenas o ambiente
Apenas minha mente
Precisarei da firmeza da terra
Pra não cair por terra
Toda a força que sim, mora aqui
Saber acalmar meus anseios
Saber calar meus temores
Saber dar espaço pra águas limpas
E paz

Como naquela vozança que saiu de mim naquela noite
Que passou por mim
Lembrarei e terei sua presença
Como se fossem seus dedos quando me acolhem
Me acolherei nessa lembrança
Pra poder me acolher em mim

VER

V
E
R

QUAL O 
FO
CO
DO NOSSO
V
E
R
?

Fotografia de cego

Queria saber fotografar o invisível que nos une
Registrar o instante da imagem do nosso pensamento
Eternizar o diálogo do afeto
Capturar o instante do som que é inaudível
Te mostrar a cor da minha saudade
O cheiro do gosto de te ouvir
O calor do toque de te amar

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Feixe

Me despenquei da euforia
E caí na preguiça
Deitei no medo dos meus pais
E adormeci em mim mesma
Rejeito saídas
Receio andadas
Faltam rodas nos meus pés que me movam
E muitas dessas rodas são você

Percorro as ruas do meu pensamento
Sem me dispersar ao que lá já vi
Hoje só quero o que entrará em mim
Calando qualquer mistério e confusão
Despertando o que me move e comove

Eles vem, eles cantam, eles insinuam
Eles massageiam, eles indicam, eles convidam
Mas deles nada toca alguma água daqui
Só você.
Só sei querer você.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Câncer de virgem

A minha outra asa eu deixo com eles
Assim só, mais difícil voar
Venham me buscar
Me levem nua nesse ar
E me façam amar

Doce solidão

E só o corpo é o que ela tem
Então dança
Ela e o teto
Ela e o corpo
Ela e a água
Ela, o fogo

Celestial

Quero conhecer
o que move enfim
Não mais caber
somente em mim

terça-feira, 18 de junho de 2013

vem aqui amanhã a noite, meu amor.

não assuste com o meu amor. 
troca por sei lá o que pra não ficar com peso na consciência por ser um amor meu.

domingo, 16 de junho de 2013

Atua intenção

Eu era menina quando começou tudo isso.
Eu sou menina quando começar tudo isso.

No final eu vou ficando triste, suja,
cheia de amarras e aprisionada num buraco que eu mesma criei.
Meu pai dizia que era mais simples.
Que as coisas eram mais simples.
Eu sempre estranhei esse negócio.
Meu pai, que já tinha sido corroído pelo moinho do mundo, dizendo que era mais simples?

Ou no final eu esqueço de mim,
crio uma cena,
escrevo um texto,
faço uma maquiagem,
invento outra máscara.
Porque essa de fingir que tá fazendo alguma coisa já não basta.
Eu precisava de uma máscara que escondesse meu fingir,
que me desnudasse,
me descascasse,
me tomasse.
Mas ainda uma máscara.
Porque eu não sei ser crua.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Descalço

Botas
Meus pés em botas
Então botas teu corpo no meu
Botas minhas botas em teu pescoço
Apoio nesses ombros pernas e botas
Tu botas o que queres onde queres
Amarre minhas botas em tuas costas
E nos botemos numa transa de botas

Esse cara

Ele chega ao anoitecer
Pela manhã logo vai
Fica cheirinho
Marcando fixo o travesseiro
Hoje só rastros dele
Só cheiros lembrados

Eu só
Ouço, bebo, como, danço, escrevo
Como se esse cheiro fosse presença
Como se aquela presença não cessasse

Toco pele nele
Ba(r)bas pintadas por impressionistas
Vou penetrando olhar
Em boca que abre ao relaxar
Em baba que vaza ao ninar
Hoje não vire essa cabeça não
Fique assim pra eu te olhar
Só olhar

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Limpa

Encaminha pra luz
deixa viver
e ninguém mais
te perturbar

Ai

Olha quem vem aí
Nesse dia cheio de Sol da Luz
Tua sombra
Chega meio dia
Pra ver minutinho de Luz só Luz

domingo, 9 de junho de 2013

Filha daqui

Sou toda água
Nesse peito batem ondas
Sou levada só aguada
Nado nessa vida
Sem precisar de mais nada

Sou carregada de força
Então pés fincam terra
Sou dela

Mas essa coluna é fogo
Sou também fogo
Queimo

Vou desenhando no ar
Esse que me leva sem me entortar
Guiada por Deus ando
Te procuro ao me procurar


Será que esses olhos são nossos

Chegou paz
A menina se derrete entre lágrimas e sorrisos
Voltando os olhos pro dentro fora de eternidade
Deixando corpo pra dança que vier
E dança vem
Sexo que enrosca amor e Deus
Num soar aguado de suor

Sou guiada pelas suas pernas
E viajada pelos seus pés
Me entorno em seu tronco
E me torno sua

Solto ar em gemidos
Trago gozo em lambidos

Toda água que me faz
Transborda pelos olhos
Ao te olhar
É amor que agradece
É paixão que estremece

Sua pele envolta em seu cheiro
Que me cola como seu beijo

Vai passando aqui dentro
Toda a vida que te quero
E de você saem ideias de teatro
E disso assim ainda mais te quero

Dispensei festival
Dispensei ritual
Já que o gosto do seu sal
Embriaga essa casa e te prende como tal

Continuo nua e de botas
Como nos amamos
Desenhando energia pelo ar

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Se dirija como pecinha

Agora vamos fazer uma personagem?
Faz tanto tempo que você não faz isso...
É...
Só fico interpretando eu mesma...
Então vamos criar algo bem diferente de você,
pra contrastar,
pra evidenciar a personagem.
Vamos.
Peraí,
o que é diferente de mim?

Eu sou tanta coisa.

Qualquer coisa que fizer ainda será eu.

Então continua se interpretando.
E se eu for engolida pelo ego?
Você já é.

Precisa é ser vomitada pra se tirar de você.

Espuma sólida

Era madrugada de ida pra segunda-feira quando ele chegou.
Ele já cansado de filmar,
ela já dormindo a espera acordando por e para ele.
Também para seu prazer.
Também para ver amor, sentir amor.

Ele foi ao banheiro.
Ela acendeu velas, uma rosa,
outra azul,
como se quisesse brincar
de encontro de menina e menino,
ou encontro de amor e fé.

Um tempo fitando uma chama, depois outra.
Derramando cera azul
como se vela chorasse para poder se colar,
se firmar, se ficar.
Duas chamas que de tão belas pediam união.
Chamas se chamando.
E ele no banheiro.
O tempo da vela envolvendo o olho dela.
Dois fogos cobrindo-se,
fazendo-se um,
antes atritavam,
tremiam,
num sutil passo do ar,
se comiam
e passavam a ser fogo de uma chama só.
Vela rosa começou a chorar em vela azul,
como se nele gozasse,
ou apenas lagrimasse amor assim.

Ele volta.
Ela diz estar brincando de sexo com as velas.
Fez-se transa de fogo.
Ele diz querer sexo com ele.
E fazem sexo bonito
que até mamãe acharia belo ver.
Como fogos sendo um,
eles se fazem um
com seus pés,
pau,
cu,
boceta,
bocas,
e tanta pele
que se entram um no outro
até vela desmanchar na manhã.

Vela azul foi-se e acabou.
Rosa ainda restou.
Ela também restou noutro dia naquele quarto.
Fazendo companhia pra vela rosa,
sendo companhia pra ela mesma.
Reacendeu o rosa.
E aquela vela mais que chorava,
derretia,
se derretia
e era derretida.
Fazia-se espuma sólida colada no tempo.
Gozo parando no tempo.
Resquícios do sexo.
E sabem ficar assim,
as duas,
ela e a vela.
Sabem ficar com restos de sexo no corpo,
fazendo espuma rosa no pensamento.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

É Lua

Proteção
Toda cheia de proteção
Vem o tambor
Beija o violão
E faz esse berrante vir pro coração

Sou toda mar
Toda água
Num verde
Num azul
Brilho que me carrega nas redes de uma criação
Gero
Sou gerada
Existo nas águas que me fazem
Vou fazendo, vou nadando
Pernas subindo
Estou no fundo do mar sendo acolhida pelo azul e verde

Esses corpos cantantes que me cobrem e me guiam
Vão recebendo do céu todo o fogo da existência
Em nome dos santos vamos expurgando a sombra
Dói ventre, dói estômago, dói mundo que é barriga

Vou com Santo Antonio
Levo e sou levada por amor
Numa alegria que lacrimeja cor

Olho pra luz,
braço que se ergue
em meio à solidão que pesou

Fogo na coluna
Fogo
Sou fogo
Então peço que se queime todo o mal
E o sombrio peço que se esvaia

O gosto

Abri porta

Pedi verdade
Pedi verdade
Vem vindo verdade
Vou me deparando com só verdade
O intenso chega
O profundo que me guia
É de força
E sem saída
Abri
Estou sendo cozida pela iniciação

Então ouço que não há fim
E só caminho
Caminho
E danço

É o tempo
É o tudo
É o ser
É a força
É o É

É dança.
Universo É dança.

Início

Só começo por não saber por onde começar.
Que é mais, 
que é além, 
que é É.
Não sei qual a mão que prende meu escrever,
só sei do pensar que é lembrar.
Voltei.
Voltei ao normal, 
ao cotidiano, 
não diria vida já que aquilo é mais vida.
Ou aquilo é além da vida, 
aquilo é vida e morte, 
aquilo é Universo, 
aquilo...
Um relato então já que poesia disse não.
Enrolo a linha do tempo.
Cronologia linear do tempo.
Dessa linha, ele pegou as duas pontas e as uniu, 
fazendo círculo-ciclo de tempo.

Alguma vez eu realmente estive só? 
Eu escrevi só pra mim? 
Tudo que vem/sai de mim precisa ir pra alguém. 
Não dá pra uma vez deixar uma coisa só comigo? 
Assim, guardada, como se fosse segredo? 

A vida está realmente diferente
Eu na vida.
O que sinto agora pela vida.
Isso é gostoso, viver.
Simplesmente estar viva.
Só olhar isso acontecendo.
Quando estava com dificuldade de voltar, 
só pensava que queria paz.
E acho que a paz é isso, 
é estar viva agora...
Eu lembro que queria uma paz, 
uma tranquilidade, 
queria dormir, 
desligar.

Era aquilo mesmo, de estar conectadíssima com meu pensamento. 
Tudo o que existia e muito forte eram aquelas sensações, 
impossível de desconectar delas.
Minha barriga parecia ser o mundo.
Eu e a dor
o incômodo na barriga.
Aquilo grande.
A barriga me envolvia.
O estômago, 
o ventre, 
tudo