sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Juno reprovada

Em tons de cereja e apelidos de uva, faço testes frios e compassivos.
A compassividade dos meus olhos é sutil e frágil como pele de galinha.
O corpo move-se na coluna da voz boiando com colares de ostras.
Estou solta como pássaros domésticos.
Jogo fora meu tempo e costuro minha hipocrisia.
Um acordo entre minha febre e meu calor, 
um choque entre minha tosse e o silêncio.
Coçando minhas fotos de doces sonhos, 
inventei palavras inúteis 
que vão me enganando 
numa poesia sem fim.

Minha tranquilidade corre como vespas em gotas de almoço.

Estou apenas falando.

Estou apenas mentindo.

Mentir, mentir, mentir

E existir.

Meu intestino coça os círculos do meu inchaço.
Soltarei as plantas no céu do meu calor.

Em meados de primavera, minha folhas vestem-se de preto.

Brinco de palavras, 
escrevo o vento dos dedos.

Gula terapêutica

Enroscada na antecipação e envolta em desespero.
Olho em meus olhos e só vejo a minha falsidade.
Mexo meu corpo e só escuto as sombras.
Onde está minha luz?
Vou andando em busca de algum sopro sincero com meus órgãos mais internos.
Colo minhas mãos nelas mesmas.
Interrompo o descanso da mente.
Vou mentindo, mentindo, mentindo.
Minha solidão apavora todos os sons da minha respiração.

Meio

Há pausas e olhares
Pequenas concentrações de línguas inúteis
Se ninguém o vê, ele nada faz
Disparos contra toques sensíveis e sutis
Disponibilidade morena do quadril
Ouvido dançante
Os egos infantis que vibram nos aplausos
Rosto neutro tomado.
O mistério torna-se uma transparência

O niilismo assopra em meus calcanhares
E o centro não foi visto em momento algum
A fala ainda não deixa alguma sintonia chegar
Sons, sons, sons, apenas sons audíveis
e nenhum som de corpos prontos para o nada
Como se as minhas unhas puxassem meus sorrisos para longe de mim.


Me enterrei em meus atrasos.

domingo, 25 de novembro de 2012

Água lilás

Enquanto ainda restam as letras soltas em meu metaengano, vou soltando meus sopros brancos
Minhas pétalas de beijos se foram
Mas minha pele eriçada aumentou como o calor de uma virgem

Peles morenas que emudecem minha monotonia
Com pequenas gotas de carinho, seus olhos me puxaram como imã de saliva

Nas horas marcadas do banho frio, meu dedo latejante canta meu silêncio

Como se molhasse meus cabelos em fogo, minha preguiça come meus pulsos lentamente

Velejo pelas ruas

Caminho pelos neurônios

Nado pelo nada

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Lágrimas roxas


Deito minhas agulhas em encantamentos cor de uva
Nas costas do início, coloco minha reputação pobre e podre
No peito do adeus, pressiono meu passado doce cheio de lágrimas

Me amarro na impossibilidade de amores de 1980
Coloco meus pés no cimento do desejo

Se me ensinarem o que é o amor, poderei aprender a dizer "eu te amo"
Por enquanto vou distribuindo minhas balas de amor por aí
Vou cavando minhas nuvens rosas e banhando minha iminência

Como um vinho que desce mas balança na fronteira entre o vidro e o ar

O que é eterno não me serve

domingo, 18 de novembro de 2012

Eu não vou me adaptar

Aqui onde meu sangue corre é onde não posso ser eu
Aqui onde há tanto amor é onde devo fechar minhas pernas e fingir ser recatada
Aqui onde me sinto acorrentada é onde devo fingir que sou uma doce menina
Aqui onde eu não aguento esconder o que sou
Aqui onde meu corpo dói por não poder ser ele
Aqui onde querem colocar vergonha no que eu tenho de mais belo

Custaria muito perceber que meu desapego é o que tenho de mais bonito
Que minha pureza está nas minhas pernas abertas e meus peitos à mostra
Que meu amor é irrestrito a um único gênero sexual
Que meu amor é irrestrito a um único ser
Que meu amor eu nem sei onde se encontra

A dor do desencaixe

Ser normal é dolorido

Aqui onde há tanto conforto físico
Aqui onde as paisagens são das mais belas
Aqui onde um condomínio fechado de casas cheira tranquilidade

Aqui onde isso tudo é somente superficial
Somente visível a olho nu  vestido

No invisível se esconde tamanha hipocrisia
Dentro de mim toda essa mentira é expandida

ONDE ESTÃO OS CORPOS?
ONDE ESTÃO OS HUMANOS ANIMAIS?
ONDE ESTÃO AS GENITAIS?
ONDE ESTÁ A VERDADE?

Estão escondidos por de baixo dos bons costumes.
Fale baixo.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Banco distante


Pelos versos do interior, meu lugar se isola cantando liberdade
Observo as linhas do espaço
Vejo a angustia pobre de uma senhora tão vivida
Vejo a solidão da velhice
Que caminhemos construindo beleza corrompida
Que voltemos ao doce olhar de uma busca incessante
A busca de um simples alguém pra falar

Depois da sua voz

Caminho lentamente nos olhos dos deuses mais sutis.

Ao queixo que se levanta quando o elogio pulsa, minhas letras vão se fazendo sem qualquer sentido.

Estou toda de branco esperando os perigos dessa vida.
Estou deixando pedaços do meu suor para o meu próprio leão.
Minha luz não sabe ainda carregar o prazer.


Gostaria de olhar nos lábios de Aline e beijar os olhos de Débora, 
como se quase as amasse por tabela.
Como se eu não fosse apenas outra, mas um apêndice do amor.
Sou tão linda que só espalho sofrimento e tão cheia de pudor que vivo nua.
Me despiria lentamente a elas, beijaria seus joelhos e lamberia seus mamilos como se fosse eles.
Me faria homem para, numa hipocrisia tamanha, desculpá-las por qualquer falta de amor.

Estou só, 
só e com as mãos tateando o escuro em busca de prazer.

Irei apenas onde a vida estiver me esperando com olhos lacrimejantes.

Essa noite sonhei com você, com seu cavanhaque roçando algum pedaço de minha alma.
Com pedaços de chuva seca,  um buraco se faz no abismo do seu peito.

Vem cá, que tá me dando vontade de chorar.

Passearei pela língua de Marcelo Camelo sentindo o gosto bom de ser sensível.
Sua saliva impregnada de solidão, seu timbre doce, sozinho...

Meu amor valeria a pena apenas a algum passarinho que pousasse suas costas em meu ombro direito.

Meu coração já se cansou de falsidade.

Embrulharei minhas lágrimas e sorrisos para presentear qualquer instante presente.

Doce saudade

Estamos acorrentados pelos números em cifrões, pelo falso moralismo e pela solidão.

Vejo minha barriga crescendo como se não tivessem mais para onde ir os meus sorrisos. 

Minha letra toma a forma de uma delicadeza dos meus meus onze anos.
Os agudos do piano me puxando rumo à nostalgia. 
A saudade que levemente ainda pesa em mim.
Sua alma extrapolando sua boa forma, meu amor vai além do galã empreendedor.
Meu amor por você tomou uma leveza tão pura onde não há mais espaço para o rancor.
Vou de encontro à ingenuidade sua que restar, 
à última gota de sensibilidade ingênua que for possível lamber.
Extrapolaria o corpo para te mostrar o brilho tão doce do meu amor por você.
Como se bebesse um vinho tinto em garrafas de água, 
beberia minha saudade de você.

Queria ouvir sua vida, estar em cada ponto mínimo das suas aventuras.
Queria te dar minhas novas realidades, 
fazer sair de mim a você qualquer felicidade que em mim houver.
Na catraca da rodoviária lembrei de sábados puramente arqueados nos trilhos dos trens.
Seus poros mais abertos, seu corpo mais forte, seus olhos mais caídos 
e sua alma mais escondida.

Mas é aí, atrás do homem forte de negócios que quero estar. 
Aí onde poucos veem, no menino aventureiro que chora sozinho para que ninguém veja sua fraqueza.
Deixe-me viajar nas ilusões da minha nostalgia e fugir pra você 
quando tudo não me basta.
Quando vou sorrindo com olhos molhados 
e beijando com a alma 
que de tão leve, 
é tensa.

Caminho da noite

Minhas pobres cotias estão lançando luzes pelas paredes do cobertor pautado em doces sonhos que choram gotas de gozo quando minha mão se enfia nos lábios mais quentes por onde passam minhas costelas brancas, repletas de pus enquanto marco o tom do respiro da vida, o início ao fim, meu gozo brisado que vê olhos de costelas riscando o azul pobre dos ossos mais porosos por onde passam as fraturas por stress.
Meu gozo que me foge ao me engolir com cheiro de lua.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Costas de cifrão

Meus olhos caíram como se uma prostituta guardasse seu salário
Ainda sou uma prostituta que cobra olhares
Minha garganta se alaga ao ver minhas nebulosas relações

Então o machismo me pisa com beijos bons e macios


Como se me escondesse em véus transparentes, vou adorando seus círculos vermelhos bissexuais


Com tantos beijos e desejos, vou andando só
A dificuldade do singular pesa em mim

Meu amor a essa potência que transborda em beleza
À estrela dos olhos radiantes
Aos olhos aguados
Aos olhos infantis

Há minutos a maciez tornou quente meus olhos vermelhos

Minha vaidade beija meu orgulho enquanto dançam na luxúria dessa minha gula permanente.

sábado, 3 de novembro de 2012

RENASCIMENTO PLENO

Nasci

Nasci com a calma da sensibilidade mais pura

Otavio Donasci deu-me a vida de presente.

Minhas palavras ainda não alcançam a poesia do meu respirar

Apenas meu sorriso, meus olhos e meu corpo transpiram a poesia do meu renascimento

De um casulo, para a vida

Não me cabem palavras.
Em mim cabe apenas a gratidão, o amor e muita vida.

m u i t a v i d a

amor

a m o r 

em nosso corpo, todo o sagrado
em nós, toda a vida

um sopro de expansão

um salto na 
p l e n i t u de

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Um mais um

O que somos, se não exigências enrustidas?
Nossas mentes estão encharcadas de exigências para com os outros para com nós mesmos.

Onde está a força de uma amizade?
Deve estar na leveza desse amor.

Até quando seremos lugares em pódios uns dos outros?
Ou até quando seremos expectativas de metade da laranja uns dos outros?

Estamos todos presos, presos pelos nossos sentimentos.
Nossos sentimentos estão impregnados de possessividade e prioridade.
Nosso ciúmes nos corrói.
Nosso desejo nos destrói.

Quando o coletivo de fato existirá?
Quando deixaremos de ser dois para sermos nós?

Mas nossos sentimentos querem ser de um.
Mas nossos sentimentos querem ter um.
Mas nossos sentimentos ainda querem ser dois.

E pra que lado iremos nesse incessante mar onde boiam os sofredores por amor?
O que engole a dor
Ou o que cospe a dor?
Há sempre um lado que pesa e outro lado que flutua

Nós quatro

Esculpi meus olhos com a brisa da noite
Deslizei pelos corpos com um sorriso infantil
Pousei minhas carícias em três belos seres

Três encantos da noite passada

Três pares de olhos que em mim me deixam

Ah se eu pudesse arrastar esses três encantos em meu lar
Veria seus beijos com minhas mordidas no ar
Sorriria a três belos falos
Beijaria três gratidões
Me entregaria a três gosmas azuis

Com saias e beijos homossexuais, homens tornam-se tão mais belos...
Se os machistas da academia soubessem o quanto ficariam atraentes beijando-se e vestindo saias, nunca mais desejariam o carro tão caro.
Nunca mais fariam das moças, objetos
Nunca mais se xingariam de viado
Nunca mais seriam os mesmos