quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Família

Agitando a visão pura que repele danças e cores, os celulares vão conversando com dedos que nada aceitam se não eles mesmos. 

A mesmice tomando a forma humana.

A repressão.

Os poemas reprimidos.

Dor

Em minha garganta há metais pontiagudos que circulam numa incessante dor lacrimejante.

Água crua

Eu já não me encaixo no meu desencaixe
E não sou o encaixe

Sou a confusão da voz que canta a meditação

O desequilíbrio das cordas do meu violão feito de ilusão

Meu chão agora é o céu
E a chuva, meu cobertor

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Crepúsculo

O sol vermelho em São João da Boa Vista
O ar pintando as nuvens de cor de rosa
A beleza toma o céu

Danço e canto com Marcelo e Mallu

A esfera cresce tomando toda a imensidão das construções 
Bola de fogo que cresce descendo pelos segundos 

E se foi deixando rastros azuis rosas
Deixando raios para serem tomados pela lua

domingo, 23 de dezembro de 2012

Fim do mundo

Seu cheiro ainda colado em meu ombro
Minha saliva pingando fogo
Seus cabelos boiando em minha pele
Sua língua invadindo meu ser
Nos olhamos suspendendo o tempo
Nos beijamos clareando o céu

Morro de mosca

Me entalaram de sensibilidade e saí dançando com as pernas desenhadas
Fiz abstrações em minha pele e canto 
Com as cordas de um trompete tantra, caminho pelo carinho

Recolhi minha pele envidraçada com gotas de luz

Abstraio dançando com os pés na grama

Velejo em meu interior contemplando o céu

sábado, 22 de dezembro de 2012

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Manhã só

Acordei e eram só caixas.
Os móveis já partidos.

Abri os olhos acendendo um incenso de mel.

Li minha loucura e silenciei meus tormentos.

Quis a madrugada de poesia.

Cantei minha garganta entalada.

Saí pelos poros da leitura e explodi minha ansiedade.

Desejei um filho e cavuco a vida em busca de amor.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Pele

Jorramos água, 
pulamos poças, 
rimos sangue, 
mordemos pernas, 
sorrimos beijos, 
acariciamos arrepios, 
recordamos casulos, 
trocamos dedicatórias, 
sintonizamos desde uma união de cabeças, 
rolamos corredor, 
plantamos no ar nossa conexão, 
sua beleza molha como chuva nossas barbas.

Em vão, Cristo

Como se corresse cheirando meus pés, a vida traz a água do nosso estranho amor
Minha pulseira de vinho, minhas vestes de manhãs belas
O despertar a cobrar seus versos moles e amorosos
A estranheza de um céu de água
Sua piscina proibida
Sua irmã exalando luz
Sua tessitura de cordas que sangram genialidade
Num jardim ficamos ausentes como água e céu

O peso do descontrole

Nas costas, o peso da culpa
As escápulas murchas
A coluna sem forças para qualquer espaço por entre as vértebras

O amor aos meus pais
A culpa de menina que teima em ser mulher, que teima em ser homem, que teima em ultrapassar a meninice
O descontrole pelas ruas
Os gritos extrapolados em lágrimas

O peso
A culpa
Ainda a culpa


Lágrimas do céu

A cada lágrima de chuva, gotas caíam de meus olhos
O céu chorava em sintonia com meus olhos
Minha respiração caminhava com as nuvens e meus soluços eram trovões

Minha dor ultrapassa os músculos, meus ossos do peito doem o engasgo

Então serei minha filha
Transitarei na maternidade de meu ser em busca de amor

Brincadeira invejosa

Você pode ganhar com isso?
Perca o dinheiro e sua respiração se fará luz.

Nó quieto

A ideia de que o silêncio se faz cada vez mais vazio.
A ideia de que o vazio seja preenchido pelo silêncio.

Chuva nos homens

Aqui os homens são de casca de açúcar.
Somente casca.

Por aí, eu

Observo a realidade com a neutralidade rasa.

Uma figura molhada que canta e olha.

Figura envolta em pano vermelho e descoberta por saia de renda.

Só olha, 
passa e olha, 
olha e canta. 

Veneno dos homens

De dinheiro nos fazem,
de dinheiro fomos feitos,
de dinheiro nos pautamos,
por dinheiro brigamos.

Por dinheiro amam.

O dinheiro é lâmina que arranha nosso peito e impregna em nosso sangue.

Dinheiro.
O asco por dinheiro.
A dependência asquerosa de dinheiro.
Me tire do shopping Higienópolis, me coloque na aldeia.

Fotografia

Houve um tempo em que os lençóis da minha poesia cobriram o silêncio.
Enquanto minha mente e meu imaginário brincavam de imagem e sabedoria, 
minha caneta nem mesmo ia.
Guardei a máquina fotográfica 
mas continuei fazendo retratos da realidade.
Minha neutralidade cobria qualquer representação 
e meu corpo, por instantes eternos, não responde 
ao que não for inevitável.

Alguns tantos versos em mim, 
versos perdidos, 
versos sem palavras escritas.

Bailarinas me guiam rumo a passos perdidos.

Hoje deixo passar qualquer inimigo do eu inferior.
Hoje, como tantos, caio na armadilha dos achismos. 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Olhos de metro

Olhos fixos com o sabor de sangue escorrendo por onde pulsa o transporte público.
Olhos verdes como meu otimismo e escuros como minha angústia.

Como ossos de vidro que não articulam o movimento do amor,
vou olhando e sorrindo,
beijando e abraçando.

Quase colando uma maçã na mordida do queixo,
a respiração faz-se pausada.

E de vértebras finas, minhas lágrimas farão o contorno do rosto.

Saudando o prazer de uma menina, 
sorrimos um para o outro.
Seus dentes tortos escorriam adorando minha poesia, 
Meu cabelo bagunçado molhava sua vida.

Despertar engasgado

Meus olhos estão caindo
São mágoas pesando

Minha expressão engasgada
Na garganta, o nó da minha presença
No meu peito, a dor da minha invisibilidade e insignificância 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Repetição

Se alguém pudesse me esconder da proibição e me apresentar o amor leve,
Veria então o toque amoroso que minha alma carece.

Escondida.

Como se falar comigo fosse o cúmulo do mal
Como se eu fosse um verme da traição

Repelente da plateia

Fico aqui vibrando para que ninguém se lembre da frisa 02.
Um foco de luz na seiva da planta,
Um corte de vidro entre mim e o mundo.
Braços cruzados com a irreverência da mpb.
Guardo minhas reflexões, 
espelho meu carinho pelos olhos.

Meu corpo precisa calar a poesia por segundos de lua cheia.

Oswaldos

Caso queira cantar sua dor, eles não podem atender.
Caso queira companhia para um show, eles não podem atender.
Caso queira um texto teórico, eles não podem atender.
É o preço das outras que sou e fui.
São os 25 centavos em meu peito.
Eles nunca podem atender.
Eles estão sempre ocupados em suas gaiolas douradas.


Tem ferida que fica, tem solidão que arde.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Estar



Enquanto espero conexões e o fim de um francês café,
Vejo as cores do Higienópolis,
Faço palavras do meu gosto de tédio,
E voo pela minha calma.
Então seria desprezível sentir o café aos poucos.
Numa manhã de domingo, em minha pequenez sonhadora, envolta em dinheiro.
Implorando por uma tomada que me sustente, estaciono no café.
Viajo pelas curvas da espuma e o líquido me prende como caleidoscópio.
A beleza das formas e a sutileza de luz e sombra
Como se pingos de estrelas boiassem na bebida marrom
A intensa cor que me faz inutilmente parar.

Com luvas de bilheteria e meias de academia,
Vou brincando de sentir saudade.

Tão bonito quanto dormir é olhar.
Parar e olhar.
Acariciar com os olhos.
Prensar com os olhos.

Mas tão sensível quanto olhar é fechar os olhos.
Fechar e sentir a cerca de sons.
Boiar pelos ouvidos que cruzam o espaço.
Ou apoiar os ouvidos no encéfalo.

Ainda tão colorido como ouvir é gostar.
Gustativar, lamber, comer.
Molhar o objeto para penetrá-lo pelos poros vermelhos.
Absorver com a crua caverna dos lábios e estrada da língua.

Viciante como sorrir é cheirar.
Aprofundar o gosto do cheiro.
Trazer ar das marés do cheiro.

Tão vivo quanto existir é estar.
É fazer os pelos caminharem pele.
Intuir e tocar.
Tocar para ser.