Era um menino.
Menino, assim, menino.
Cheio de vida entre os amigos.
Aspirando arte.
Bem menino ele.
Ele lá pra cima, na boa.
E ela revirando a insônia.
Ela cavucando a saudade.
Ela presa num querer.
Um querer confiante mesmo ainda.
Ainda.
Mesmo que saiba daquele tempo do menino.
Tempo outro dele.
Ela não sabe se confunde destino com ilusão.
Se confunde conexão com ilusão.
Se confunde intuição com ilusão.
Se confunde paixão com ilusão.
Se confunde amor com ilusão.
Mas se for ilusão,
ela ainda ousa permanecer ali.
Poderia ser invenção toda essa relação.
Invenção dela.
Lembra quando aquele outro ele intuía um amor tão profundo por ela, uma paixão desmedida.
Ela, naquele outro tempo dela, aquele tempo de menina, ela nada respondia àquele outro ele.
Ela preocupava-se com os tantos sabores dos tantos falsos amores que passavam por ali.
Ela preocupava-se com sua falsa liberdade.
Ela em outro tempo.
Mas eis que um tempo é revirado nela.
Ela abre corpo e todo o ser a algum amor.
Entra em tempo daquele outro ele.
Entra fundo, implora que ele adentre ela no mais íntimo.
No íntimo que nem ela mesma conheça.
Mas outro ele já era de outro tempo.
E não foi nesse tempo que o íntimo se revelou.
Ela então vê todo aquele querer em ele.
Ele está em outro tempo.
Outro tempo.
De relance, ao passar de algumas brisas,
ele olha ao tempo dela,
diz conexões, diz diz diz
Diz entre tantas leviandades...
Como aquelas que ela dizia a outro ele.
Mas adentrar em tempo dela ainda é longe dele.
Então continua revirando-se em insônia.
Duas da manhã e ainda.
Como se ainda coubessem justificativas,
nada tão jogado apenas em ele.
Ela também é menina.
Nina. Como beija-flor.
Em espaços sagrados,
vão sendo revelados a ela,
revelados mistérios que nos rondam.
Escolheu arte.
E arte vem quase que estuprando-a
com um amor sem fim.
O corpo amolece.
A voz carece.
Mole estou.
Corpo como se já em sono.
Mas é insônia.
Aquele estupro artístico,
que com tanta ousadia assim coloco,
fala em morte, morte, morte.
Em natureza.
Em loucura.
Aquele estupro artístico
quer levá-la pra onde veio.
E vai levando, levando.
Ando indo ao mais antigo.
Sem voz carrego ainda essa busca.
Mexendo estruturas.
Caindo certezas.
Caindo vozes que nem em pé se faziam.
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