domingo, 16 de agosto de 2015

Se eu me contasse eu não acreditaria. Se eu fizer poesia, vão acreditar na metáfora. Se eu fizer em terceira pessoa, vão acreditar que é invenção. Então agora vai ser formato diário mesmo, sem contornos poéticos, se for possível.
Acabava a meditação e dizia minhas palavras pra comigo mesma, pra com a vida, pra com a divindade, não importa pra você não se prender em questionar crenças, orações, mestre etc. Mas ela falava do contato com as deusas, com a divindade da prosperidade e da abundância de vida, de se alimentar de amor, de ser amor. Então um inseto enorme caminhou em seu pescoço. Ela, toda calma em seu raro momento de leveza, serenidade e calmaria, passou a mão nos fios soltos de cabelo pensando ser um deles. Mas a sensação de algo andando nela permaneceu. Passou a mão com menos leveza, serenidade e calma e levou ao chão uma formiga enorme. Suspeitei que fosse quase barata. Era grande mesmo a bicha. Fui até pra primeira pessoa pra você acreditar em mim. Lógico que peguei a bota mais perto e pá. Morre, bicha! E a bicha não morria. De novo, sem nada de serenidade não. Quero te matar, bicha! E a bicha insistia. Mais uma votada e a bicha sumiu. Cadê? Olhei pra debaixo do guarda-roupas e ela tava lá se remexendo toda, quase morta mas ainda viva. Se agarrando numa sujeirinha tentando viver. Mas toda quase morte. Então uma das vozes que ficam aqui na nuca veio dar seu discurso: você é realmente muito incoerente. Que mentira que você tava rezando. Dizia que saudava a vida, o amor, as três deusas, a prosperidade e a abundância e tá aí amando ver um bicho se debatendo. Adorando o sofrimento do bicho. Querendo matar o bicho. Que vida é essa que você tá saudando? Só a sua? Tá se achando superior?
E a bicha lá, quase morrendo.
E o que quer que eu faça? Deixe essa bicha enorme aqui pra me picar?
Podia ter simplesmente levado ela pra fora do quarto, ô madame.
Verdade.
Então com a mesma bota que tentou matar a bicha, deu suporte pra ela subir. A bicha que estava toda circular tentando se segurar na própria cauda, subiu um pouco na bota até recompor seus miolos - queria lembrar das aulas de biologia pra usar termos científicos mas não tá rolando e ir pro Google vai cortar o fluxo.
Então quando a bicha se recompôs, saiu da bota e voltou a andar toda toda. Eu tentava que ela subisse de novo na bota pra levá-la pra varanda, mas lógico que ela não ia acreditar em quem acabou que tentar matá-la. Fugia da bota. Tentei, tentei e agora ela não se debatia mais em si, querendo viver, mas se debatia de um lado a outro aprisionada pela bota, querendo se defender. Ai contei pra ela um pouco do que to aprendendo no "eu sem defesas" (um livro muito bom que se você chegou até aqui nesse escrito de facebook, te indico de coração). Essa parte é mentira. Não contei nada pra ela, só pensei que ela tava cheia de defesa e com razão, mas que agora eu era tipo Deus, eu tava dando uma nova chance de vida, que era tipo ressureição de Cristo. Ri da palhaçada toda que tava pensando e disse pra ela: "vai, filha, To querendo te ajudar agora, pra lá! Vai...". Ai ela foi obedecendo e indo pra sacada. Me deliciei com AAAAAI! Ela voltou! Tá andando do meu lado! Filha da puta. Eu juro que é verídico esse texto. Até aqui. Ah não... Esse caminho é lento demais, não pode festejar o aprendizado que ele já tá voltando de outro jeito. Pelo menos agora não no meu pescoço. Eita porra... Vou lá. Não sei se matar ou levar pra sacada.
Primeira edição: não, eu de fato não sou evoluída. Matei. Fui sem calma com a botinha na mesma tentativa. Ela ficou mais rápida e astuta. Já não tinha mais medo de morrer. Fui ficando completamente estressada e principalmente por não poder manter minha pose de compreensiva no aprendizado da vida, da que sabe lidar com o indesejado, com a frustração. Ela foi ficando tão astuta que achou um buraco entre o piso e o roda pé e foi entrando. Ah não! Aí já é demais. Pá. Ela se debateu. E de novo, pá. Mais uma, pá. Morreu. Tá na hora de parar de ser só bonitinho e digno de poesia o aprendizado do passado.
Dizem que pra saber onde se está no caminho espiritual basta olhar pros relacionamentos. E você fica pensando que é com um amorzinho em forma de gente. Mas pode ser com a formiga gigante mesmo.

16/08/2015

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